Por Cristiane Sampaio/Brasil de Fato
Participantes colaram cartazes de denúncia no espaço de onde foi retirada placa danificada por Coronel Tadeu (PSL-SP)
Um cortejo de manifestantes antirracistas tomou conta dos corredores da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (20).
Embalados por palavras de ordem em referência à luta pela igualdade racial, parlamentares de oposição e ativistas de organizações da sociedade civil bradaram contra a atitude do deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), que, na terça (19), protagonizou uma cena de racismo ao arrancar e pisotear uma placa da exposição “Resistir no Brasil”.
Atualmente em cartaz na Casa, a mostra é alusiva ao Dia da Consciência Negra, comemorado nesta data.
“A população preta sangra todos os dias. O 20 de Novembro não nasceu por acaso. Zumbi dos Palmares lutou e foi executado. Nós estamos aqui existindo e resistindo”, disse a cantora Preta Rara, ao recitar versos de protesto na abertura do ato.
Parlamentares das siglas PT, PDT, PSB, Psol e Rede se aglutinaram em meio aos manifestantes.
Efeitos do racismo
Um dos organizadores do protesto, o deputado David Miranda (Psol-RJ) disse ao Brasil de Fato que a manifestação ajuda a fortalecer o processo de resistência dos representantes negros na Casa, que tem apenas 21 deputados autodeclarados negros entre o total de 513 membros. O número representa 4,09% da legislatura 2019-2022.
“É muito importante pra que a gente possa reafirmar que este espaço aqui é um espaço negro também, que a maioria da população brasileira ainda não é representada aqui. Nós estamos aqui resistindo, assim como eles estão resistindo lá do lado de fora, nas periferias, nas favelas, em todos os lugares nesta sociedade, que é racista, misógina e LGBTfóbica”, afirmou Miranda, em tom emocionado.
O militante Ronaldo dos Santos, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), lembrou que o racismo afeta fortemente a população do campo, muitas vezes ofuscada diante da agenda urbana em destaque na mídia e nos espaços de representação política nacional.
“Este 20 de novembro, pra nós, é muito relevante. O Dia da Consciência Negra é todos os dias, mas esta é a data que a gente escolheu pra se juntar e gritar, refletir sobre o que tem nos abatido todos os dias. Essa violência está instalada no campo brasileiro há 500 anos, porque a colonização é violenta e racista, derrama sangue de quilombolas, indígenas e campesinos em geral”, ressaltou.
“Defesa da coorporação”
Max Maciel, integrante da Rede Urbana de Ações Socioculturais (Ruas), contrapôs o argumento utilizado pelo deputado Coronel Tadeu, que é policial militar, para quebrar a placar da exposição, que, segundo o parlamentar, seria um ataque à corporação. Ele afirmou, na ocasião, que a atitude seria para “defender 600 mil policiais”.
A imagem rasgada trata do homicídio da população negra por agentes de segurança, tema que é destaque nas estatísticas do país: segundo dados da 13ª edição do Anuário da Violência, divulgado este ano pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 75,4% dos assassinatos praticados pela polícia em 2018 foram de pessoas negras.
“Não é essa imagem que fere parte da corporação. É que o Estado brasileiro aumentou em mais de 20% os homicídios de policiais a jovens negros. Essa arte é o genocídio da população negra pelo braço armado do Estado. Se o deputado se sente incomodado com essa figura, que ele vá fazer uma luta contra a política de segurança pública que este governo quer implementar”, provocou Max Maciel, ao citar o Pacote Anticrime, de autoria do ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Ao final do ano, os manifestantes colaram, no espaço da exposição de onde foi retirada a placa em questão, diferentes cartazes em referência à luta pela igualdade racial no país.
Nos bastidores, parlamentares da oposição tentam articular com o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a recolocação de uma imagem igual no espaço, como forma de protesto pela atitude do deputado pesselista.