Por Leonardo Wexell Severo
Presidente convocou bolivianos a darem uma resposta contundente no próximo domingo em defesa da soberania e do desenvolvimento contra os que querem o país ajoelhado aos estrangeiros
“A vitória do povo boliviano nas eleições do próximo domingo será a derrota do imperialismo e dos vende-pátria, será a derrota do neoliberalismo, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, da sua cartilha de privatizações. Será a vitória dos que se unem, organizam e mobilizam contra a submissão ao estrangeiro, contra a pobreza e a desigualdade”, afirmou o presidente Evo Morales, no discurso de encerramento do multitudinário comício de encerramento realizado na noite de quarta-feira (16) na cidade de El Alto, vizinha à capital, La Paz.
Com um minuto de silêncio em homenagem aos 67 mortos e mais de 400 feridos no “Outubro Negro”, a multidão que tomou as pontes, viadutos e avenidas próximas ao monumento em homenagem ao comandante Ernesto Che Guevara, recordou os 16 anos do levante popular de El Alto contra o desgoverno de Gonzalo Sánchez de Losada (Goni) e de Carlos Mesa – que hoje lidera a oposição a Evo.
Naquele fatídico 17 de outubro de 2003, a dupla de serviçais estadunindenses tentou aplicar um pacotaço privatizante e teve de se enfrentar com a ira do povo. A revolta forçou Sanchez de Losada a fugir do palácio em um helicóptero e, protegido pelos ianques, ir se refugiar nos EUA.
Em frente a estas avenidas tomadas por trabalhadores do campo e da cidade, estudantes e profissionais liberais, uma extensa faixa defendia “Justiça”, frisando que não pode haver “nem esquecimento, nem perdão a Goni e a Mesa”.
Evo lembrou que “em toda a história da Bolívia, desde 1825 a 2005”, o país havia tido uma média de um presidente a cada dois anos, chegando ao cúmulo de em 24 horas ter tido três presidentes, pois “nunca havia estabilidade política e menos ainda estabilidade social”. “Agora nosso país é referência internacional”, apontou, denunciando a campanha de difamação dos que “dizem que somos uma ditadura”, que a marca do governo é o autoritarismo. “Essa é a gente que queimou no ano passado o Tribunal Superior Eleitoral no estado de Santa Cruz, que queimou comitês de campanha do MAS”, recordou.
Em um discurso bastante didático de 52 minutos de duração, interrompido com aplausos e palavras de ordem, o presidente esclareceu que hoje “as políticas econômicas vêm do povo boliviano não do império norte-americano, vêm dos movimentos sociais, não do FMI, são paridas pelo povo, com sua luta, com seu voto”.
Listando os inúmeros crimes cometidos pela direita e pelos “chupa media” – como são identificados por aqui os bajuladores – contra a economia popular, o líder boliviano apresentou vários recortes de jornais que registravam como a política econômica do passado se definia em Washington e de como os governos de então propunham abertamente a entrega das riquezas naturais e de serviços públicos como água, luz e telecomunicações a cartéis estrangeiros
O processo eleitoral, alertou uma vez mais, deve servir para o país avançar e jamais retroceder, como pode ser visto de forma mais abusiva recentemente no Equador.
A Bolívia vai por outro caminho, assinalou, pois “depois de nacionalizar, começamos a industrializar os hidrocarbonetos, o ferro e o lítio e vamos continuar com nossos programas econômicos, investindo nos programas de substituição de importações”. “São programas do povo”, enfatizou, “não do império norte-americano, são fábricas, escolas, hospitais, moradias populares, rodovias e aeroportos possibilitadas por uma política econômica que faz com que o nosso pais seja novamente o que mais cresce na América do Sul”.
Em meio ao tremular de um mar de bandeiras do Movimento Ao Socialismo (MAS); da colorida Whipala, dos povos andinos; de imagens do Che, Chávez e de Salvador Allende, Evo conclamou os “irmãos do campo e da cidade, a cumprir com o que disse Tupak Katari: morro e voltarei milhões”. “Voltarei não só socialmente, sindicalmente, comunitariamente, mas eleitoralmente”, apontou.
Amplo respaldo popular
Carregando o filho nas costas, a jovem Abigail Placencio ficou com os olhos marejados ao recordar daquele outubro fatídico: “foi uma matança na tentativa de fazer passar a privatização dos nossos recursos naturais”. “Na oportunidade meu pai morreu na mão dos militares. Eu tinha apenas três anos e valorizo muito tudo o que foi feito, toda a luta dos moradores de El Alto. Agora estamos aqui novamente, unidos e orgulhosos com Evo, que representa o apoio à juventude e às mães solteiras, a construção de um novo tempo de prosperidade”, frisou.
Exibindo orgulhoso o capacete na cabeça, o mineiro Richard Gutierrez, ressaltou que “enquanto os outros governos prometiam e nada faziam além de vender o país aos estrangeiros, Evo nacionalizou as áreas estratégicas, gerando os recursos necessários para desenvolver as mais diferentes áreas, melhorando as condições de vida”.
Como recordou o médico Marco Antonio Cruz, “o apoio à reeleição de Evo e Linera reflete os avanços obtidos nos últimos 13 anos em que foram construídos mais hospitais e centros de saúde do que nunca”. “Foram contratados 15 mil novos médicos, enfermeiras e auxiliares de enfermagem, está sendo implantado o Sistema Único de Saúde (SUS) e vem sendo multiplicadas unidades de primeiro, segundo, terceiro e quarto nível em todo os departamentos”, declarou.
As unidades de primeiro nível serão os centros de saúde, que contarão com médico, enfermeiro, dentista e auxiliar de enfermagem; as de segundo nível já garantirão atenção ao parto, contando com farmácia, clínica odontológica mais estruturada, ginecologista e várias especialidades; as de terceiro nível serão hospitais com capacidade para realizar cirurgias e as de quarto nível – como o que está em construção em El Alto – oferecerá inclusive serviço de medicina nuclear e para o tratamento contra o câncer.
Aprofundar o processo de mudanças
Para o secretário-executivo da Central Operária Boliviana (COB), Juan Carlos Huarachi, é preciso reeleger o binômio Evo e Álvaro Garcia Linera para “cuidar e aprofundar o processo de mudanças”, hoje sintetizado no slogan Futuro Seguro. “Homens, mulheres e crianças deram suas vidas para recuperarmos a democracia, para recuperarmos a Pátria. Com a nacionalização dos recursos naturais, passamos agora à industrialização, o que nos permitirá uma nova fase na consolidação da nossa soberania, enfrentando a chantagem, a sabotagem e a perseguição dos que nos querem presas do estrangeiro, do racismo e preconceito das elites locais”, acrescentou.
Candidato a deputado pelo MAS, Freddy Mamani alertou para provocações às vésperas do pleito em que “setores separatistas e racistas” tentam desestabilizar o país, que vem sendo referência de crescimento com justiça social para a América Latina e para o mundo. “Em defesa de uma Pátria livre, vamos às urnas no próximo domingo para dar o pontapé final nesses golpistas”, convocou.