Como empoderar a sociedade civil? Como encontrar soluções para os problemas das comunidades das pessoas? Começando pelas relações.
Com base nessa premissa simples, o sociólogo e ativista Saul Alinsky, nos anos 40, se propôs melhorar as condições de um bairro da classe trabalhadora de Chicago. Desde então, seu método de “organização comunitária” tem sido testado, testado e desenvolvido em vários países ao redor do mundo, trazendo resultados concretos para muitas comunidades.
Na sexta-feira, 17 de maio, participei de uma apresentação desta interessante prática de cidadania ativa destinada a formar “organizadores” para um projeto piloto em um bairro de Turim, Barriera de Milán. É uma zona suburbana com uma elevada concentração de imigração (sempre, primeiro do Sul e agora do exterior) que apresenta problemas de pequena criminalidade, pobreza, emergência habitacional, integração, mas também muitas oportunidades, como sempre acontece em realidades complexas. Por isso, procuro resumir, em relação aos elementos que foram apresentados e ao que entendi, os princípios em que se baseia.
Em primeiro lugar, temos que construir o poder da ação (de fato, as pessoas desfavorecidas não têm poder porque estão divididas), então temos que partir das relações e não dos problemas, começando por conhecer as pessoas que compõem a comunidade, escutando-as. Neste trabalho de conhecimento e coesão é fundamental envolver as comunidades que mantêm a sociedade unida (ainda chamadas organizações), ou seja, escolas, igrejas, centros de congregação em geral, que são estáveis no tempo e são formados por pessoas muito diferentes. Ao mesmo tempo, é necessário criar um ecossistema de líderes, ou seja, não depender de líderes “naturais”, mas apoiar as pessoas para que assumam responsabilidades e não façam pelos outros o que podem fazer sozinhos, isto é, fazer crescer as pessoas. Dessa forma, os problemas podem ser abordados: transformar o protesto em uma proposta, analisar o poder de entender quem realmente tem a oportunidade de decidir e fazer a diferença em uma determinada questão e, consequentemente, polarizar e personalizar o objetivo que está sendo pedido para uma resposta (não “atirar na pilha” de forma genérica, o que não leva a resultados). Toda essa prática permite que as pessoas desenvolvam uma cultura de humildade e responsabilidade. Os “organizadores” que orientam este processo são os facilitadores que permitem o desenvolvimento correto do método e são capazes de guiar as comunidades para alcançar metas alcançáveis. Um famoso organizador comunitário foi Barack Obama, que na década de 1980 trabalhou nessa posição em Chicago, em uma área desfavorecida com uma clara maioria negra, antes de entrar na política.
Pontos em comum com as experiências italianas
Embora seja um método que nasceu e se desenvolveu nos Estados Unidos, portanto, em uma realidade social muito diferente da nossa, encontrei muitos aspectos interessantes, encontrando alguns pontos em comum com algumas de minhas experiências como ativista humanista e com alguns princípios de comunicação não violenta.
Desde a década de 90, o Movimento Humanista, através de associações de voluntariado, organizou os “Centros de Comunicação Direta” nos bairros, com o objetivo de reconstruir o tecido social. Muitas experiências foram realizadas em cidades de diferentes partes do mundo. Um dos instrumentos utilizados foi a “experiência de democracia directa”, que convidou a população a exprimir-se sobre as questões mais problemáticas do bairro (previamente identificadas através de pesquisas de rua e porta-a-porta). A partir de uma destas experiências num bairro suburbano de Turim, onde trabalhou, surgiu o problema de uma praça abandonada, sem luz, que se tinha transformado num cemitério de seringas usadas. Por isso, organizámos uma recolha de assinaturas para pedir uma assembleia pública no Município, que conseguimos realizar com grande dificuldade. Na reunião, que contou com a presença de habitantes e comerciantes locais, surgiu a absurda explicação da razão pela qual esta praça tinha sido abandonada à sua sorte durante tantos anos e a situação foi resolvida graças, sobretudo, aos técnicos do município, que se encarregaram do assunto e introduziram imediatamente pequenas melhorias. Continuámos com a pressão, envolvemos também jovens arquitectos na realização de um projecto de remodelação e apresentámo-lo. Até que a intervenção foi incluída num programa extraordinário financiado e, após alguns anos, a praça (Piazza Nazario Sauro) mudou de cara. Foi uma experiência pequena, mas muito gratificante, considerando como é difícil ver os resultados concretos de um trabalho como ativista voluntário.
Nosso objetivo era, e ainda é, organizar a base social para mudar o que está errado, de forma não violenta.
Entre os fundamentos da comunicação, e depois da ação não violenta, estão as relações, em particular a qualidade das relações: precisamos de um trabalho de autoconhecimento, nem sempre reclamando e culpando os outros, aprendendo a encontrar soluções criativas que não prejudiquem ninguém e que nos permitam ir além das evidências, tornando possível o que parecia impossível. Sempre aproveitando suas próprias qualidades e experiências, sejam elas negativas ou positivas. Todos esses elementos podem ser encontrados, tanto quanto eu posso entender, também na organização comunitária.
Portanto, acolhemos todas as práticas que vão nessa direção, que buscam a convergência, que buscam superar o egoísmo individual, que criam comunidades coesas e solidárias, que abrem a mente e o coração para o “outro”. Isto só pode ser benéfico para todos.
Daniela Brina
Tradução por Nicole Salas