Por Redação RBA, Rede Brasil Atual
Documento do órgão afirma, por exemplo, que o agrotóxico não provoca mutação genética nem é cancerígeno, negando diversos estudos do meio científico
Anvisa faz ainda outras duas conclusões que, na análise de Larissa, são “levianas” para constar em um documento público
A nota técnica divulgada pela Anvisasobre o uso de glifosato no Brasil, agrotóxico mais utilizado no país, “não é séria”, segundo análise da pesquisadora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), Larissa Mies Bombardi, autora do Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia.
A avaliação da Anvisa chegou a três conclusões centrais: o glifosato não se enquadra em critérios proibitivos – ou seja, a substância não seria mutagênica, carcinogênica e não afetaria a reprodução –, o risco é maior para o trabalhador rural ou para quem circula em áreas de lavoura e o risco de sua utilização estaria abaixo dos limites aceitáveis.
Desde a abertura do processo de consulta pública da Anvisa sobre o glifosato, a pesquisadora e especialista tem alertado em sua coluna na Rádio Brasil Atual sobre a manipulação de dados quanto ao uso desse tipo de substância.
Em entrevista à jornalista Marilu Cabañas nesta quinta-feira (14), Larissa destacou que as conclusões do órgão se chocam com estudos sobre os reais malefícios do agrotóxico à saúde. “Penso que é um tremendo despautério afirmar que não há esses riscos”, afirma a pesquisadora. “Esse trabalho da Anvisa desqualifica o Iarc (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer contratada pela Organização Mundial da Saúde) que admite que o glifosato é cancerígeno para os humanos”, ressalta Larissa.
A pesquisadora também fala a respeito da conclusão de que o risco é mais elevado para quem trabalha diretamente com o glifosato. “Não é preciso ser especialista para saber que o risco é maior para quem está lidando com essa substância. O que tem por trás dessa conclusão é uma estratégia clara de tentar inverter a ordem das coisas e culpabilizar a vítima”, pontua, fazendo referência a trabalhadores intoxicados pelo veneno.
Larissa critica ainda a terceira conclusão da nota, de que o uso do glifosato se encontra abaixo do “limite aceitável”. “A expressão ‘limite aceitável’ me assustou muito porque está presente no PL do Veneno. Não há a explicitação daquilo que é aceitável e do que não é, e a gente sabe que os limites de glifosato tanto na água como nos alimentos são estratosféricos no Brasil”, adverte.