Por Lilian Campelo | Brasil de Fato
A estratégia será a busca pela união na defesa de seus territórios, afirma liderança quilombola no Pará
A maior floresta tropical do mundo é rica não só em biodiversidade, mas também em diversidade étnica e cultural. Jackson Dias, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), destaca que a Amazônia é imprescindível para a vida de milhões de brasileiros, que olham com preocupação as declarações do presidente recém-eleito, Jair Bolsonaro.
“É fundamental que os povos continuem em luta, em resistência contra a entrega dos nossos bens naturais. E contra a exploração dos povos da região Amazônica. A população tem que continuar ativa nessa luta pela conservação da Amazônia”, afirma Dias.
Gilson de Jesus Rêgo, coordenador da Comissão Pastoral da Terra no Pará e da Articulação das CPTs na Amazônia, lembra que o risco sofrido pela maior floresta tropical do mundo e as ameaças aos povos que vivem nela não é novidade, contudo demonstra preocupação frente ao novo governo.
Durante a campanha, Jair Bolsonaro afirmou que “o Brasil não suporta ter mais de 50% do território demarcado como terras indígenas, como áreas de proteção ambiental, como parques nacionais. Atrapalha o desenvolvimento. Outros países conseguem preservar o meio ambiente com menos áreas protegidas. Não podemos continuar admitindo fiscalização xiita por parte do ICMBio e Ibama prejudicando quem quer produzir”.
Além disso, anunciou a fusão, nesta terça-feira (31) do Ministério do Meio Ambiente com o da Agricultura, o que deve favorecer os interesses do agronegócio.
O coordenador da Comissão Pastoral da Terra disse que a preocupação aumenta à medida em Bolsonaro apresenta um discurso voltado para o agronegócio. “E que amplia os espaços para esse tipo de atividade na Amazônia e que desconsidera todos os processos de luta das populações locais”, analisa Rêgo.
A visão da Amazônia como oportunidade de negócios e lucros é antiga na região. E se materiliaza em grandes obras como: rodovias, hidrelétricas e ferrovias. As atividades geram pressão e interferem na vida das populações indígenas e outras comunidades tradicionais.
Resistências
Logo após a divulgação do resultado das eleições, apoiadores de Bolsonaro se manifestaram nas redes sociais. Eles ameaçaram LGBTs, negros e sem-terra. Pastorais do campo como a CPT e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) também fora alvos. Rêgo, no entanto, afirma que a pastoral vai continuar na luta em defesa do homem do campo.
“A nossa missão é estar ao lado do povo, ao lado do pobre. É o que nos anima”, diz.
Vanusa Cardoso vive na comunidade de Abacatal, situada em Ananindeua, município que integra a região metropolitana de Belém. A liderança quilombola afirma que o momento é ,“mais do que nunca”, de resistência e defesa dos territórios. Ela acredita na formação de uma frente como estratégia de defesa dos povos da Amazônia.
“A gente precisar resistir mais do que nunca para defender a nossa vida e o bem viver desses povos”, diz a coordenadora de patrimônio na Associação de Moradores e Produtores Quilombolas de Abacatal e Aurá.
Organizações da sociedade civil membros do Observatório do Clima, publicaram uma nota onde declaram resistência ao governo de Bolsonaro. Eles afirmaram que não vão se calar diante do desmonte de instituições e políticas públicas.
“Perseguiremos de forma incansável o cumprimento das metas do Brasil contra as mudanças climáticas e a ampliação da ambição dessas metas”. E ressaltam que se irão se opor “a qualquer investida contra os povos e comunidades tradicionais, protegidos pela Constituição, bem como a qualquer violência contra ativistas ambientais”.