Entrevista com Adriana Vasconcellos, candidata a deputada federal pelo Psol. Adriana faz parte da Dobradona, projeto político que reúne diversas candidaturas aos cargos do legislativo tanto em nível estadual, quanto no nível federal e é inspirado no processo de construção política chileno, no qual houve uma expressiva bancada da Frente Ampla ocupando o Congresso Chileno.
Pressenza Brasil – Qual a sua trajetória?
Adriana Vasconcellos – Eu sou professora da Rede municipal de ensino, de História e Geografia. Estou na rede desde que entrei, na mesma escola, desde 2006, adoro política, Acho que a escola tem de ser um lugar crítico, isto é – desenvolver a criticidade dos alunos. A partir da educação eu vi que isso realmente acontece, a mudança acontece. A partir do golpe de 2016, eu vi que tudo ia retroceder. Por que este vampiro de direitos, acaba com o ministério da igualdade racial, da mulher e dos direitos humanos. A partir deste momento eu decidi entrar pra política institucional. Eu aprendi que a política institucional depende da política que a gente faz diariamente.
P. Quais são seus motivos para entrar na disputa política?
A.V. – Em 2016 eu concorri a vereadora para a cidade de São Paulo, sem saber nada sobre como se dava uma campanha [política]. Mas é aquela coisa, nós tínhamos de estar lá, no legislativo. Me juntei a duas amigas. Conseguimos mais de 5.279 votos, foi bem sacrificante porém muito gratificante. Daí o Toninho Vespoli me chama para ser assessora parlamentar. Daí a gente vê a necessidade do político trabalhar para o povo. As leis só serão efetivas se elas partirem do povo.
A grande maioria [dos vereadores] dizia estar em dúvida se iriam votar a favor ou contra o Sampa Prev [Previdência dos Servidores de São Paulo]. O vampiro de direitos não conseguiu fazer a reforma, e o prefake quis fazer a reforma aqui em São Paulo. A gente lá de dentro, envia mensagens de Whatsapp para uma lista de contatos. O Toninho tinha realmente um mandato popular, só funcionava a partir do que era colocado a partir de vários grupos que tinham representatividade dentro do mandato. Nós pegamos a lista e dissemos que aqueles que diziam estar com dúvida, estavam mentindo, ele iriam votar a favor. Houve pressão em cima desses vereadores. Políticos carreiristas, que não fazem absolutamente nada pela população, é aquele que dá tapinhas nas costas do eleitor, próximo da re-eleição coloca um asfaltinho na rua, porém, política pública de fato não faz. Foi linda a manifestação.
Não é preciso se corromper, se você estiver ciente do que está fazendo, junto da população, a coisa acontece. A certeza é de que a política institucional deve andar junto com a política do dia-a-dia. Uma vitória dos servidores e dos políticos que estavam lá. Tanto é que estes que estavam dizendo estar em cima do muro “prestem atenção”, eles só votaram contra a mudança, porque sabiam que iriam perder votos. A participação política foi fundamental. Se a população estiver junto, as coisas acontecem.
P. Quais são suas propostas?
A.V. – Vou falar o que já fiz estando dentro do mandato e o que tenho em mente. Quando eu era assessora parlamentar, a minha candidatura [a vereadora] era uma candidatura preta. Quando o Toninho me convida eu digo pra ele “eu venho para continuar o que tinha em mente na época da eleição”. Daí fui para a pasta da negritude e da educação. Um projeto de lei que a gente conseguiu aprovar em primeira instância e que me deixa muito feliz, dentre de outros que eu fiz, foi o do encarceramento em massa. Falar sobre este tema na cidade de São Paulo. Colocar essa pauta, acontece, porém é como se estivesse tudo bem. Outros que nós fizemos também, que são de muito valor, foi sobre a perseguição às matrizes africanas. Como instância municipal não podemos criminalizar, mas podemos penalizar, portanto, quem incitasse o ódio teria de pagar uma taxa, uma multa. Seria responsabilizado administrativamente, ou seja não poderia ter nenhum negócio com a prefeitura [como alvarás] ou prestar concurso público em âmbito municipal. Só penalizar você não muda a cultura. Para você mudar esta cultura racista, que foi aprendida, são 518 anos propagando essa estrutura racista, você tem que passar para a educação. Se você aprendeu o errado, você tem que aprender o certo, a pessoa teria de passar por um curso na antiga Secretaria dos Direitos Humanos.
A minha pauta, a minha candidatura é preta, nós somos a base, principalmente as mulheres negras, se a base melhorar, quem está em cima também vai melhorar. Eu penso essa política a partir do dia 14 de maio de 1888 [lei áurea], que estava lá escrito na lei, que os negros seriam libertos porém não teriam direito a nada. A partir deste momento tudo pára pra gente, é a partir dele que temos de pensar as políticas públicas, essa igualdade, que está na lei. Penso em três pilares – em moradia, educação e direito à mobilidade, transporte urbano. Você conseguindo melhorar a mobilidade você melhora o acesso à cultura, saúde, tudo passa pela mobilidade, ciclovias, autonomia e cidadania para essas pessoas. O direito à moradia, normalmente as pessoas moram afastadas dos grandes centros e nem sempre moram de maneira satisfatória, de maneira digna. Ela tem direito a morar com dignidade. Nós vamos também proporcionar isso. E a educação, que é a base de tudo, de todos os problemas. Se temos uma educação forte, que não é contada de maneira eurocêntrica. Tudo se resolve, principalmente a questão do racismo. Se você conta a história a partir do 14 de maio, as coisas começam a ficar escurecidas, se for para antes desta data, vamos ver que nossos antepassados traziam também trabalho intelectual. Não foi na Grécia que começou a Medicina, Matemática, Astronomia. Não é para ser melhor, é para termos uma sociedade mais humana, com equidade. Pois não somos iguais, somos diferentes, porém todos devem ser respeitados.
P. Qual é a importância de apoiar a Dobradona?
A.V. – Esse projeto é maravilhoso, conseguimos juntar diversas formas de estar neste mundo, de pensar este mundo, com as suas especificidades, numa crença de que todos nós consigamos estar no mesmo espaço e ter um pensamento único. Essa questão do anti racismo, anti LGBTfobia, são assuntos que se passam, se encontram. Em um momento eu acho incrível conseguir apresentar para as pessoas esses diversos olhares em um só objetivo. Mostrar que é possível fazer uma política que encanta, que realmente faz parte da população.
Ouça na íntegra a entrevista com Adriana Vasconcellos –