Entrevista com Renata Perón, candidata a deputada federal pelo Psol. Perón faz parte da Dobradona, projeto político que reúne diversas candidaturas aos cargos do legislativo tanto em nível estadual, quanto no nível federal e é inspirado no processo de construção política chileno, no qual houve uma expressiva bancada da Frente Ampla ocupando o Congresso Chileno.
Pressenza – Qual a sua trajetória?
Renata Perón – Eu sou paraibana, nasci em João Pessoa (PB). Mas eu fui morar muitos anos da minha vida em juazeiro na Bahia, minha mãe morreu por depressão pós parto, ela pôs fogo no corpo. Fiquei até os 12 anos morando com a família, saindo de um lugar para o outro. Morei dos 12 aos 17 com três senhoras, em juazeiro na Bahia morei na casa de um irmão, fiquei dos 17 até os 27. E dos 27 até os 41 eu estou aqui em São Paulo. Eu fui estudando, aprendendo a conviver com as diferenças de não aceitação por ser uma mulher trans, em 2007 acabei perdendo um rim. Sou cantora, sou assistente social, sou arte-vista, termo que encontrei no Facebook, espero que não me processem.
P. – Quais são seus motivos para entrar na disputa política?
R.P. – Eu acho que são vários motivos, porém, um crucial foi o fato de ter sido agredida em 2007, e ter sido negligenciada pelo estado, não só pela falta de segurança pública, pois já era um lugar reincidente, como no caso do adestrador de cães que foi assassinado, e violências com travestis e transexuais. Depois que eu fui negligenciada pelo estado pensei em formas para mudar. Eu fiz um curso universitário, depois vi que se quisesse que as coisas fossem mudadas meu lugar seria no Congresso Nacional. Após isso fiquei namorando por 4 anos a possibilidade de ser candidata, porém não me sentia segura por ser uma mulher trans e achar que não teria credibilidade frente a sociedade. E descobri que quando se tem um trabalho sério, a sociedade por mais ignorante que seja, ela acaba percebendo que você é uma pessoa, um ser humano. E estou acreditando nisso, tanto que estou candidata para um cargo tão importante.
P. – Quais são suas propostas?
R.P. – A lei de identidade de gênero [Projeto de Lei 5002/2013], apresentada em 2013 por Jean Willys e Érica Kokay, ela nunca foi aprovada. Temos a grata felicidade de fazer a mudança nos nossos nomes no cartório graças a uma medida do STF [Supremo Tribunal Federal, máxima instância judicial no Brasil], porém ele não elabora as leis. Nossa preocupação é que o Congresso possa vir mais Conservador. Todas essas pequenas ações que nós temos, elas vão cair por terra. Então é uma das propostas mais importante da minha vida é fazer com que esse projeto se torne lei.
P. – Qual é a importância de apoiar a Dobradona?
R.P. – A pergunta teria que ser ao contrário: qual é a importância da dobradona me apoiar. A gente é muito negligenciada em todos os lugares. Quando vemos um grupo de 8 a 9 pessoas que tem pensamentos iguais aos seus, que é o respeito a dignidade da pessoa humana, quer seja ela negra, LGBT, ou em situação de rua, ou professora, e consegue te enxergar como igual, isso é de suma importância. Nós estamos dando um exemplo para os demais políticos, não é a sexualidade que julga o caráter de um ser e sim o próprio caráter enquanto pessoa, ser humana. A dobradona vem como um projeto de vida, que a gente possa reverberar isso e trazer mais pupilos para cá, por que esta política e este discurso que estamos construindo todos os anos, ele não consegue mais chegar nas pessoas. Elas querem ouvir mais pessoas que falem e que façam a diferença. Por exemplo, uma das ideias da Dobradona é a redução em 50% o salário de um deputado. Isso nunca aconteceu na história deste país, como diz Lula. A ousadia maior é fazer um protesto, que durante 4 anos vamos doar este valor para uma instituição.
Ouça a entrevista na íntegra –