Por Pe. Alfredo J. Gonçalves
Em Roma (Itália)
Junto com o crescimento do número de migrantes e pessoas em situação de refúgio no mundo, crescem também as políticas de rechaço a essas populações.
Os números retratados pelos mais recentes relatórios da ONU confirmam o crescimento significativo dos deslocamentos humanos de massa. Os migrantes internacionais alcançam a marca de 244 milhões em 2015, um aumento de 41% em relação a 2000. Os dados foram publicados na terça-feira, dia 12 de junho de 2018, pelo relatório do Departamentos de Assuntos Econômicos e sociais da ONU (DESA). Desnecessário acrescentar que dezenas de milhões são refugiados e que, entre estes últimos, a grande maioria reside nos países limítrofes do qual se viram obrigados a escapar, como é o caso da etnia Rohingya em fuga de Myanmar para o vizinho Bangladesh.
De outro lado, “uma pessoa em cada três segundos vira um refugiado, tempo menor que o necessário para ler esta frase”. A afirmação e da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que alerta para o crescimento dos casos de conflitos, violência e perseguição. De acordo com a ONU, o número de refugiados, incluindo os “desplazados” pela violência interna, atinge o recorde de 68,5 milhões em 2017, segundo relatório Tendências Globais, divulgado em 19 de junho de 2018. A crise humanitária é a mais grave desde a fundação da ONU, em 1945.
Resulta que o fenômeno migratório, em todos os seus aspectos, tornou-se em todo o mundo tema relevante da pauta de qualquer campanha eleitoral. Não raro, o ponto número um não só dos debates, mas também dos resultados finais da eleições. Às vezes, assunto indigesto no cenário da geopolítica nacional e internacional. Bastaria rememorar os casos dos Estados Unidos, da França, da Alemanha, da Áustria, da Itália, da Espanha, da República Checa, da Eslováquia, da Holanda – sem falar dos vizinhos Venezuela e Colômbia. A razão é dupla: por um lado, a violência e a pobreza fazem aumentar sempre mais o número de migrantes, prófugos e refugiados; por outro, o endurecimento da legislação por parte dos governos, numa grande guinada à direita, torna mais vísivel o fenômeno devido à pressão sobre as fronteiras. Esses complexos fronteiriços, verdadeiras panelas de pressão, como que entram em ebulição, prestes a explodir!
Duas observações merecem destaque. A primeira refere-se ao duro golpe da separação dos menores em relação a seus pais e familiares, no processo de triagem/expatriação da política de tolerância zero do governo Donald Trump, nos Estados Unidos. Ficamos sem palavras diante de semelhante violação dos direitos humanos, bem como de violência física, emocional e psíquica para com as crianças. Como fica a convivência no interior da família, “conditio sine qua non” para uma autêntica saúde mental? As imagens de meninos e meninas “enjaulados” na fronteira mais parecem cenas sepultadas e esquecidas das grandes guerras mundiais e que, por uma crueldade do destino, se levantam para acusar a indiferença mundial.
A segunda observação tem a ver com a saga do navio Aquarius, da organização não-governamental SOS Mediterranée. Por mais de uma semana a embarcação errou pelas águas do Mediterrâneo entre Malta, Itália e Espanha, à espera de um porto onde desembarcar os 629 imigrantes resgatados nas costas da Líbia. O caso do “navio à deriva” vem mexendo com a política migratória de toda a União Europeia (UE). O último caso foi a nave Lifeline, com 240 pessoas a bordo. Com o endurecimento do novo governo italiano, por parte de seu Ministro do Interior, Matteo Salvini (Lega, partido de direita), o número de imigrantes que desembarcaram na Itália caiu em 82% desde janeiro de 2018. Em contrapartida, no mesmo período, o desembarque de imigrantes na Espanha mais que dobrou, e subiu 40% na Grécia.
Enquanto isso, uma vez mais, os líderes da União Europeia (UE) tentaram um acordo para resolver o que chamam de “crise imigratória”. Como distribuir os imigrantes de acordo com a população de cada membro da UE? Como afirma um alto dirigente de Bruxelas, qual o país que aceitará hospedar centros de identificação, triagem e distribuição dos recém-chegados?
Tudo indica que a discussão haverá de prolongar-se tanto quanto o êxodo de imigrantes que, a partir do Médio Oriente e da África, tentam um futuro mais promissor na Europa.