Sucesso de bilheteria, filme “Pantera Negra (Black Panther)” traz elementos da cultura africana e referências históricas.
Cinema e Representatividade – O caso Pantera Negra
Em dez dias o filme “Pantera Negra” (Black Panther no original) arrecadou 400 milhões de dólares nos Estados Unidos e mais de 300 milhões ao redor do mundo, desbancando filmes como “Capitão América, o primeiro vingador de 2011” e “Hulk: o homem incrível de 2008”. O trailer da trama teve quase 29 milhões de visualizações.
Os números astronômicos e o sucesso de bilheteria fazem de “Pantera Negra” um dos sucessos da Marvel. A história fala sobre o reino de Wakanda, país fictício situado no continente africano e dono do metal mais precioso da Terra: o vibranium, capaz de ser altamente resistente e gerar energia e riquezas sem precedentes. Por conta de seu alto valor, muitos contrabandistas tentam roubá-lo. Wakanda detem a maior reserva do mineral. Uma alusão clara aos recursos naturais africanos e a expropriação feita pelos países invasores e que atualmente ocorre via grandes empresas multinacionais.
T’Challa é o príncipe herdeiro de Wakanda e o “Pantera Negra”. Após a morte do seu pai tem que assumir o trono e as funções de rei. O país é um “El Dorado”, extremamente rico e detentor de alta tecnologia que é desenvolvida por uma mulher. As mulheres no filme ocupam um papel central, o que traz a tona a questão da igualdade de gênero.
(Imagem: divulgação)
Tipos Sociais e Representação: “Pantera Negra” e a Construção do Imaginário Coletivo
O cinema é extremamente potente. Filmes e conteúdos audiovisuais no seu sentido amplo são capazes de criar signos. De dar sentido para as coisas. Uma construção paulatina e complexa que molda a forma que enxergamos a realidade. No Brasil, por exemplo, sempre esteve em questão a forma em que as negras e negros apareciam nas telenovelas, principal produto de nossa indústria audiovisual. Isto é: que tipo de papel era reservado para esse segmento? Como os mesmos eram retratados?
Em “Pantera Negra” há negras e negros ocupando lugar de destaque. Como heróis, isso é extremamente significativo para uma criança negra que brinca de super herói e que muita das vezes não se vê representada. O recente filme sobre a Mulher Maravilha (2017) é um exemplo disso para o caso das meninas. Isso significa olhar para um filme e se enxergar. Se ver representado.
O continente africano de um modo geral sempre fora retratado de modo animalesco, como se só existisse a vida animal, como no caso do filme “O Rei Leão (1994)”. Os documentários disseminados mundo afora também insistem em tratar apenas a vida animal ou retratar a extrema pobreza. Se torna vital falar dos problemas e das dificuldades e questionar a sua origem, mas não se pode esquecer de toda a riqueza não somente material, em diversas reservas de diamante, ouro e petróleo, como a riqueza cultural cristalizada nas diversas línguas, expressões e formas de viver e de ver o mundo.
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As referências a cultura afro permeiam toda a estética do filme, no figurino, nos cenários e nas trilhas sonoras que trazem elementos do hip-hop e de ritmos africanos.
Lupita Nyong’o e Letitia Wright em Pantera Negra (2018) (Imagem: Divulgação)
Violência ou Não-Violência?
O filme é um choque para muitos por seu teor provocativo. Ao colocar personagens negros no centro, muitas pessoas podem se sentir incomodadas, como tem acontecido no Brasil e no mundo afora. Além dos diversos questionamentos a respeito das invasões e saques feitos por países europeus. O que toca no ego de muita gente.
Além disso o filme traz uma solução para o problema: a educação. A disputa de poder entre T’Challa e seu primo Erik Killmonger pode ser entendida como uma alusão às duas alternativas para solucionar os problemas trazidos pela chamada “colonização” e a escravidão/saque do continente africano. De um lado temos a solução da violência, das armas e da ação segundo o modus operandi do colonizador. De outro temos a educação como caminho para a melhoria da qualidade de vida e para a superação das desigualdades. O caminho da não violência. A não-violência vence.
A representatividade é algo vital para diversos grupos marginalizados, como negros e negras, outras minorias étnicas como os indígenas, LGBTs, pessoas com deficiência e etc. Dar voz e quebrar estereótipos se torna mais do que necessário, se torna imprescindível para a construção de sociedades igualitárias. Pantera Negra se constitui em uma filmografia obrigatória para pensar representatividade.
texto por Vinícius Chamlet
*Imagem de capa: divulgação