A vinda da filósofa estadunidense Judith Butler ao Brasil incomodou certos setores da sociedade. Ao ponto de serem criados no Facebook eventos pedindo a sua saída do país. Os mesmos grupos conservadores que promovem os projetos de lei da “Escola sem Partido” e que tentam censurar colégios, museus e exposições.

Houve protestos contra e a favor a presença da acadêmica hoje, dia 07/11, no Sesc Pompeia. No ato pessoas atearam fogo em uma boneca gritando “queimem a bruxa”.

Afinal, quem é Judith Butler e por que ela incomoda tanto certos setores da sociedade brasileira?

Judith Butler é uma renomada filósofa com uma grande produção acadêmica. Renomada nos chamados estudos sobre gênero. Diferentemente do que é propagado, ela não é a criadora dos estudos sobre gênero. Estes estudos tiveram seu início com “Sexo e Temperamento” de Margaret Mead, de 1935. Observe que a autora ainda utiliza a categoria (palavra) sexo ao invés de gênero. Apesar disso, o livro é um marco nos estudos realizados sobre gênero e sexualidade.

Mead demonstra em seu texto as diferenças entre os temperamentos em diferentes sociedades da Polinésia. Homens e mulheres tinham diferentes comportamentos, não havia uma forma universal de homem ou de mulher, havia masculinidades e feminilidades produzidas culturalmente, socialmente.

Os estudos de gênero contemporâneos, como os de Judith e os de Joan Scott, demonstram e reiteram as diferenças existentes entre as pessoas.

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Não se trata da ideia preconceituosa sobre ideologia como algo desprendido da realidade, estratosférico e que tenta dar um sentido para a realidade que não existe nela mesma. Ora, sabemos que há diferenças. Isso é tangível. Visível. As pessoas que querem censurar Judith são as mesmas que querem fechar os olhos para essa realidade – a de que existem pessoas diferentes, que não se encaixam no binômio masculino/feminino e que não se identificam com o sexo de nascimento.

A grande preocupação dos movimentos LGBTQ+ e das teóricas que versam sobre a temática de gênero e sexualidade, não é imprimir de forma ditatorial um modo de vida para as pessoas, é mostrar que o diferente existe e que é importante coexistir. Viver em conjunto.

Judith não quer destruir determinado modo de vida, muito menos a heterossexualidade. Sua obra pretende mostrar este outro lado, que é apagado. Censurado. Pessoas que são invisibilizadas e apagadas sistematicamente. Desumanizadas. Tudo isso em um país como o Brasil que é campeão internacional no número de mortes de pessoas transsexuais.

Fechar os olhos para essa realidade é uma ato de crueldade.

Judith vem ao Brasil para falar sobre seu livro – “ Caminhos Divergentes, Judaicidade e Crítica do Sionismo”. A autora se debruça nele na crise que se instaurou no Oriente Médio, na relação de Israel com seus vizinhos e com os povos palestinos.

Está é Judith Butler, uma teórica de gênero, das relações políticas que o Estado de Israel assume. A filósofa incomoda justamente por questionar o status quo, de que o sexo de nascimento está ligado ao gênero que a pessoa tem que assumir. Ora, sabemos que não é assim que ocorre. Gênero, sexo e orientação sexual são coisas diferentes.

“ Se a esperança é uma demanda impossível, então demandamos o impossível”

Butler