“Como vamos interagir no mundo sem a comunicação?”
Cláudia Sofia em palestra para o TED em 2011.
A visão é um dos mais importantes – se não o mais importante – sentido que temos. Vivemos em um mundo em que a comunicação privilegia a imagem. Nas redes sociais é o grande formato de comunicação. Os produtos audio-visuais como filmes e os pequenos vídeos que circulam pela internet desempenham um importante papel na comunicação social.
Imagine como é o mundo em que a comunicação se dá majoritariamente por formatos audio-visuais para deficientes físicos como os cegos e os surdos? Poucos programas de televisão tem interpretes ou legendas. Os filmes de produção nacional, por exemplo, em sua maioria não tem legendas em português. De modo que dificilmente os surdos terão acesso a este conteúdo se não contarem com a ajuda de um intérprete.
Como se dá a inclusão desta população ? Quais são os esforços promovidos pelo poder público para garantir os direitos elementares para esta minoria?
Segundo o Censo de 2010 há no Brasil 9,7 milhões de deficientes auditivos. Destes 2,147,366 apresentam deficiência auditiva severa. O número de pessoas com deficiência visual – contabilizado por esse mesmo Censo – é de 6,5 milhões de pessoas. Destas meio milhão é de pessoas cegas.
Há também aqueles que são surdos e cegos. Na cidade de São Paulo, segundo dados da prefeitura, existem 250 pessoas nestas condições.
Imaginar a vida de um surdocego é algo que nos causa estranhamento. Pensar em todas as dificuldades e barreiras. Chegamos a pensar que não há vida sem esses dois sentidos.
Claudia Sofia – ativista dos direitos dos surdoscegos, coordenadora da Associação Brasileira de Apoio ao Surdo Cego do Grupo Brasil de Apoio aos Deficientes Múltiplos, é um exemplo de que é possível viver com a surdocegueira e que é possível ter uma vida normal.
Claudia é casada com um surdocego. Carlos Jorge é instrutor assistente de mergulho, diretor geral da Associação Brasileira de Apoio ao Surdo Cego (ABRASC). Ambos vivem em São Paulo. Eles formam o primeiro casal de surdos-cego da América Latina.
Eles trabalham e vivem sozinhos. De forma independente. Para algumas tarefas -como idas ao supermercado – eles precisam da ajuda de um intérprete, mas de modo geral conseguem manter uma vida como a de qualquer outro casal.
Claudia usa o tadoma – uma forma de comunicação que em que se coloca a mão nos lábios de uma pessoa e consegue-se fazer uma leitura labial pelo toque. Carlos usa a língua brasileira de sinais (Libras) e a libras tátil para se comunicar. Além do uso da libras tátil e do tadoma, uma outra tecnologia tem ganhado terreno e ajudado na comunicação de surdos-cegos e pessoas com múltiplas deficiências. O Eye Tracking – que é basicamente o uso de tecnologias – como câmeras e softwares – para criar uma forma de comunicação baseada no movimento dos olhos.
No Brasil o ensino especial voltado para pessoas com deficiência é precário. Os professores, mesmo em boas universidades, não são formados para conseguirem se comunicar de forma plena com essas populações.
Devemos abandonar a visão construída dos cegos, surdos e surdo-cegos como meros coitados. Eles tem direitos e devem ter uma vida normal, com suas devidas adaptações, desfrutando das mesmas coisas que uma pessoa não-deficiente desfruta. Como o acesso ao emprego, estudo, relacionamentos e tudo mais que a vida pode trazer. Eles não devem ficar reclusos em suas casas, devem ocupar o espaço público.
O caso de Janinne Pires Farias, estudante de Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia, é um exemplo de como o poder público não investe no acesso de pessoas com deficiências. Janinne teve problemas para ter acesso as aulas por conta do atraso do pagamento dos salários dos intérpretes.
Os surdoscegos também tem direitos. O Estado deve investir na inclusão dessas pessoas.