Por Elisa Campanario e Laura Simões
A Virada Cultural desse ano de 2017, ocorrida nos dias 20 e 21 de maio, foi mais um passo rumo à integração e equidade de todos. Com atrações em diversos locais da cidade de São Paulo, os shows de música, dança, mágica, teatro e outros propiciaram a ocupação de locais públicos pelos cidadãos, que circularam durante as 48 horas pelas ruas fechadas da capital. A 13ª Virada Cultural abriu espaço para reflexões sobre gênero, imigração, pátria, racismo, empoderamento feminino, marginalização, pobreza e preconceitos em geral. Alguns problemas técnicos aqui e ali ficaram evidentes, mas isso não abalou o clima geral. Cobrimos um pouco do que rolou:
Parque Municipal da Chácara do Jockey
Infelizmente, chegamos quando a Liniker e os Caramelows já estavam partindo para a última música. O palco era enorme, e localizava-se do lado esquerdo do descampado do Parque. A tela de trás projetava uma estampa cor de rosa que destacava as rosas bordadas em vermelho no vestido preto da cantora trans. Seu cabelo afro, grande e volumoso, ganhava movimento enquanto ela andava e cantava, ocupando todo o espaço. Sua presença de palco e familiaridade com este são impressionantes. Sem falar da potência de sua voz. Incrível.
Em um palco menor, do lado direito do campo, Miss Bolívia cantou. A artista, apesar do nome, vem da Argentina. Suas letras são sobre o empoderamento feminino. É realmente uma figura interessante, vale a pena conhecer. As músicas são todas cantadas em espanhol e são animadas, dançantes, ainda que falem sobre feminismo.
(Miss Bolívia e Miss Colômbia)
Centro de São Paulo – Vale do Anhangabaú e região
O centro de São Paulo, um dia foi o lugar onde moravam aqueles que pertenciam às classes mais abastadas. Com o tempo e com o aumento populacional, o local se transformou. Passou a ser um lugar comercial, e os que antes ali moravam mudaram-se para subúrbios murados, cedendo espaço à desigualdade. Atualmente, vê-se muitos mendigos, pessoas drogadas e sem amparo social que se estabelecem no centro, o que cria uma certa repulsa por parte da população de classe média para cima. Entretanto, sob a luz dos postes de luz antigos, os prédios conservados, ainda que pichados, a arquitetura rebuscada, e a calçada de pedra, transmitem uma sensação melancólica, nos fazendo imergir em um espaço em que o tempo presente se mistura com o passado. Com a Virada Cultural, a ocupação das ruas pelas pessoas cresce de forma desmedida, desmistificando muito do que se entende pelo senso comum. Com as atrações que se estabeleceram por lá, além de causar reflexão sobre questões sociais, trouxe um clima de vida na cidade. Pelas ruas mais vazias encontramos bandas e cantores, que lá estavam de forma informal, mas muito que muito contribuíram para fazer da Virada um momento de integração e intervenção urbana.
Palco Ibero Americano
Na chegada ao centro, procurando pelo palco dos imigrantes e refugiados, encontramos este em frente à Faculdade de Direito da USP, onde tocava a banda cubana Jorge Ceruto e Su Mambo que Sambo.O público não era grande, mas aqueles lá estavam apreciavam a música, dançando, inclusive algumas pessoas em situação de rua.
Palco dos Imigrantes e Refugiados
Depois de algumas voltas, encontramos o que procurávamos. Cruzamento da Rua Direita com a Rua Tesouro. Em meio à um público considerável, vários imigrantes e refugiados cantavam e dançavam, felizes, junto ao som do Satellite Musique, banda haitiana formada em 2014 por músicos residentes aqui no Brasil. A banda tocava um ritmo típico de seu país, o compás, e foi fundada por Louides Charles. Conversando com o presidente do comitê da banda, ele nos contou um pouco de sua trajetória: veio para o Brasil como turista para assistir a Copa do Mundo em 2014, enquanto morava na Venezuela, e gostou tanto do país que ficou por aqui. Conversamos também com Yuri Firmino (20 anos), que estava assistindo a banda e disse que escolheu esse palco, pois, além de dar visibilidade para os grupos que estavam se apresentando, acredita ser importante o contato com outras culturas como forma de evitar o crescimento de movimentos radicais que estão ameaçando a integridade dos imigrantes e outros grupos minoritários.
A banda cubana Batanga e cia fez uma linda apresentação com som de flauta transversal, teclado, violão, címbalo e tambor. Três membros da banda são cubanos e dois são brasileiros. A música é tipicamente cubana instrumental, e fazia todo o público mexer o corpo ininterruptamente.
(Banda Haitiana)
Theatro Municipal
Perto do Theatro, encontramos um piano que era constantemente tocado por diferentes músicos. Dançarinos aproveitaram o som para se expressar, levando arte corporal ao local onde geralmente os carros passam, por vezes, de forma agressiva. Inclusive, um deles fez um carro parar e esperar enquanto eles se expressavam. Em frente ao antigo prédio, bailarinas foram levantadas por um grande balão branco, e dançaram no ar. Além disso, luzes coloridas projetas nas paredes traziam o antigo local à vida novamente, e interagiam as pessoas que esperavam na grande fila para a entrada no local, que sediou apresentações durante todo o tempo. Um pouco antes das duas da manhã, entramos na fila, que apesar de longa foi bem rápida. Assistimos Orchestra Bachianas com Tobias e a bateria da Vai Vai. O Theatro estava lotado.A apresentação teve início com músicas clássicas e românticas. A partir do meio até o final, houve a interação com a bateria da conhecida escola de samba, que animou o público e trouxe uma experiência única aos paulistas.
Palco Cabaré Queer – Copan
Quatro da manhã. Sono, frio, e muita gente apreciando a apresentação do Sarau Manas e Monas, de cunho feminista. No meio da apresentação, a cantora não somente tira a parte de baixo de seu vestido, fica de body, e arranca as luvas vermelhas, como também tira a peruca que estava usando e expõe seu cabelo curtinho ao público. A apresentação se deu de forma muito expressiva, uma vez que a cantora interpretava a música que cantava. Foi emocionante.
Mais tarde, às 14 horas do dia 21, foi a vez de Jaloo se apresentar. O paraense levou uma plateia lotada aos pulos mesmo debaixo de uma chuva apertada. O público, em sua maioria composto por LGBTs. A emoção era tão grande que não tinha como ficar parado. O cantor tirou o casaco e ficou de cropped durante o show. A roupa toda branca destacava a pintura colorida em seu rosto. Ele percorria o palco sem parar, dançando a todo momento junto de duas dançarinas. Ao final, ainda se jogou na plateia e passou de mão em mão, cantando e se encharcando com a água da chuva.
Pela rua
Andando pelas ruas do centro, no domingo, encontramos o bloco Unidos do Swing. A música, no estilo jazz, foi atraindo as pessoas que por ali passavam. A banda é composta por vários músicos, que tocam instrumentos como o trompete, o trombone, a bateria, a guitarra e o saxofone. Além disso, as vozes que cantavam se revezavam e utilizavam um megafone para se propagar melhor. O bloco era regido por uma mulher, que dançava em meio a todos e os dirigia para um lado e para o outro. De repente, um grupo de palhaços se aproximou e entrou na roda, interagindo com os músicos.