Após ter adiado o depoimento e ter gravado um vídeo pedindo para ninguém ir a Curitiba, vídeo que foi exibido até na televisão em horário nobre de domingo,Moro acordou nesta quarta-feira, 10 de Maio de 2017, com uma Curitiba tomada por manifestantes de todo o país.

Foram mais de 120 ônibus e 15 mil pessoas somente de fora de Curitiba, e o ato a noite contabilizou algo entre 30 a 50 mil manifestantes. Enquanto que os defensores de Moro e da Globo não passavam de 20 ou 30 pessoas.

A cidade também foi inundada por jornalistas de todas as partes do mundo, até nos da Pressenza, enviamos 2 correspondentes para acompanhar de perto.

O depoimento em si foi muito longo, repetitivo e cheio de irregularidades. Moro fez perguntas fora do contexto da acusação, chegando até a pedir a opinião de Lula sobre o caso do Mensalão que já foi julgado no STF e outras denúncias relativas a Petrobras, numa clara tentativa de “queimar” a imagem de Lula perante a opinião pública.

Lula respondeu todas as perguntas relativas ao caso do Triplex e surpreendeu a todos quando colocou contra a parede tanto o juiz por ter vazados grampos ilegais para imprensa e o ministério público por levantar acusações sem provas cabais, baseando-se apenas num powerpoint cheio de especulações.

No início do depoimento, houve um fustigamente excessivo de Moro, sobretudo com perguntas sobre a falecida ex-primeira dama Marisa, numa clara tentativa de  fragilizar emocionalmente Lula.

Particularmente o depoimento final de Lula incomodou muito ao Sérgio Moro que tentou interrompê-lo três vezes, numa espécie de transferência de papéis onde Moro ficou na defensiva apôs o que mais parecia um desabafo do réu contra todas as injustiças sofridas por ele durante o processo.

Em coletiva de imprensa, os advogados de Lula novamente citaram a suspensão de Moro para julgar o caso, citando a falta de materialidade das provas,a falta de paridades de armas entre a acusação e a defesa e incompetência geográfica de Curitiba para ser a comarca do julgamento. Ainda levantaram que ONU aceitou avaliar o caso e que tende a uma decisão favorável a Lula.

Apôs o depoimento, Lula se encontrou com Dilma e com uma série de partidos, movimentos e sindicatos que vieram ao ato de apoio. Deu um discurso curto e bastante emotivo, afirmando que ele seria novamente candidato a presidência da república e que o povo julgaria se ele era culpado ou inocente.

Um dia depois, vemos que as narrativas continuam polarizadas, mas que a bola agora está com Lula e o PT, que saíram fortalecidos deste episódio.

Por outro lado, apesar de ser fundamental apoiar o direito de defesa de Lula e impedir os repetidos abusos de autoridade de Moro e da República de Curitiba, após este episódio se vê um esgotamento das campanhas “contra a corrupção” e a população agora está mais preocupada com outras urgências como falta de trabalho, o desmonte da educação, da saúde e da previdência, por exemplo.

Por mais que Lula tenha saído fortalecido deste depoimento, deveriam tomar cuidado aqueles que acham que a volta do PT ao governo pode representar novos avanços.

Os últimos sinais de Brasília apontam num acordo entre os três maiores partidos (PT, PSDB e PMDB) não só em “estancar a sangria” da lava-jato para salvar suas peles, mas principalmente em deixar Temer governar até 2018 e fazer todas os desmontes (que ele chama de reformas) que bem entender.

Por mais que tenham outro discurso, na pratica tudo está sendo direcionado somente para as eleições. Tendo em vista as duas últimas eleições, se não houver uma nova frente ampla e/ou novos atores políticos vindo da base social, o próximo processo político será pautado pelas velhas forças já conhecidas.

Neste sentido, junto com a redação do Outras Palavras, a Pressenza Brasil estará acompanhando diversos ativistas e lutadores sociais, sobre as possíveis saídas para o impasse atual.