O momento político brasileiro é de muita convulsão. Sofremos um golpe de estado, e o governo que assumiu impôs uma agenda de retirada de direitos a cada dia, em nome de uma saída para a crise.
Eis que no dia 18/05 todos somos surpreendidos com a delação de uma das maiores empresas do mundo no ramo de carne, a JBS. E de quebra uma das maiores financiadoras de campanhas eleitorais dos últimos tempos. Financia as campanhas majoritárias de candidatos oponentes com chance de eleger. Ou seja, põe “fichas” no vencedor quem quer que seja.
A delação tratava de conversas envolviam nosso presidente do Brasil, Michel Temer,onde evidencia a compra do silêncio de um dos articuladores do Impeachment da ex-presidente Dilma Roussef. Envolveu também outras figuras do mundo político como o senador do PSDB Aécio Neves, oponente da Dilma nas últimas eleições alcançando 48,36% dos votos válidos. A ironia dessa situação é que o avô de Aécio Neves, Tancredo Neves, foi um dos grandes nomes na campanha das Diretas Já em 1983.
Essas delações não soaram como novidades para as militância que acompanham os acontecimentos políticos, e conhecem os partidos envolvidos no escândalo.
Mas, a oportunidade de ir às ruas diante de canalhice tão explícita não se poderia perder.
Os detalhes dos acontecimentos podem ser vistos pela imprensa especializada, cujo link deixarei ao final.
Acreditava-se que o presidente renunciaria. Mas não ocorreu por enquanto, apesar das pressões de seus próprios aliados. O clima atual é de muita incerteza de instabilidade política.
Aos poucos vai ficando claro o que está ocorrendo nos bastidores.
Um fato foi a TV globo, que apoiava o atual governo, ter feito o furo de reportagem com as delações da JBS. Importante considerar que a JBS é um dos seus maiores anunciantes. E antes dessa bomba venderam suas ações no mercado, e compraram quase um bilhão de dólares. Seu icro com o escândalo da delação foi exorbitante.
Esse contexto foi apenas ilustrado para acompanhar os registros fotográficos do Ato Público pela renuncia de Temer, e o clamor por Eleições Diretas já. Ocorreu na cidade do Rio de Janeiro. Em outras cidades também ocorreram protestos simultaneamente.
No Ato tinham entre 30 e 50 mil pessoas. A maioria jovens. Estava lindo e o clima em alto nível. Grande diversidade de partidos de esquerda, entidades de classe, coletivos e estudantes lotando as ruas do centro do Rio de Janeiro. O grito de ordem era Diretas Já, embora saibamos que o a renúncia do presidente deva resultar em eleições indiretas conforme prevê nossa Constituição. Mas é uma aspiração necessária e muito válida nesses tempos.
Ao final da passeata, se concentraram na Cinelândia, famosa praça onde são realizados protestos historicamente.
Apesar de amistoso e alegre clima ele teve fim com a repressão da polícia, que disparou muitas bombas de gás e de efeito moral. Testemunhei alguns feridos por estilhaços de bombas e balas de borracha.
As militâncias não terão vida fácil nesse momento de convulsão política. E precisarão rever suas estratégias. Ainda há muita segregação nas entidades e partidos de esquerda, e isso se reflete um pouco na desunião da própria militância. Ainda existem partidos de esquerda que estão demasiado preocupados em aumentar sua influência na sociedade através de sua diferenciação. A meu ver, isso não é mais sustentável nesse contexto. Aqui tem um ditado que diz “A esquerda só se une na cadeia” Infelizmente, a esquerda não foi capaz de nas últimas décadas influenciar e ideologizar os setores populares que hoje estão completamente desorientados frente à perda de referências, e perda de confiança nos próprios mecanismos democráticos como as eleições (nunca tivemos tantos votos nulos nas últimas eleições).
Se não houver uma inteligência conjunta e uma ação social estratégica alinhada sobre pontos mínimos acordados, a esquerda não conseguirá avançar muito. Vai ter que quebrar os ovos se quiser fazer omelete. E que oxalá consigamos pressão para termos eleições diretas já.
Seguem algumas recomendações de leitura sobre os fatos do momento:
http://jornalggn.com.br/politica
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br
http://consciencia.net
https://theintercept.com/brasil/