Por Douglas Belchior
Uneafro promete celebração da aprovação das Cotas em ato com centenas de estudantes negras e periféricas, neste sábado, a partir das 09h00, na SanFran.
A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP, aprovou nesta quinta-feira, 30, pela primeira vez em sua história, uma política de acesso com recorte explicitamente racial.
A partir de 2018, o vestibular vai obedecer a seguinte distribuição de suas vagas: 20% para Pretos, Pardos, e Indígenas vindos de Escola Pública, via Enem; 10% para estudantes oriundos de Escola Pública, via Enem; 70% de vagas pelo caminho tradicional, via FUVEST.
Luta histórica do movimento negro brasileiro, o acesso à universidade continua sendo um grande desafio para a população preta e pobre. A Universidade de São Paulo, bem como a Unicamp, duas estaduais que se mantém sob o rígido comando do governo tucano há décadas, mantém suas características de Casa Grande: portas fechadas para essa população.
Nos últimos anos, porém, graças à pressão incansável do movimento negro, movimento de cursinhos comunitários e de diversos grupos de estudantes sensíveis às pautas, a universidade tem sido obrigada a responder. E tem feito por meio de medidas ineficazes, como nos casos do Inclusp e do Pimesp, propostas de acesso que não apresentaram alteração substancial no perfil dos ingressantes.
Os departamentos uspianos também tem sido provocados a usar de sua autonomia. Por serem mais “próximos” dos estudantes, esses espaços tem sido alvo de muita pressão. Exemplo foi a postura do Departamento de Jornalismo e Editoração que decidiu, em junho de 2016, adotar 13,5% das vagas de cada uma das duas carreiras, para negros e indígenas oriundos de escolas públicas.
Hoje, convidado pelos estudantes da faculdade, estive em meio ao Ato de pressão junto ao Conselho que se reunia, representando a UNEafro Brasil, ao lado Frei David e de dezenas de estudantes da Educafro, organização de onde surgiu a Uneafro e onde eu aprendi grande parte do que sei e faço.
O resultado positivo, em certa medida, nos fez lembrar as tantas ações que construímos ao lado de organizações negras que há tempos, muito antes de nós, já faziam esta luta. Companheiros da Rede Quilombação, do Instituto Luiz Gama, do Núcleo de Consciência Negra na USP, do Movimento Negro Unificado – MNU, da CONEN, da UNEGRO, das APN’s, do Círculo Palmarino, do Kilombagem, do Coletivo de Esquerda Força Ativa, do Geledés Instituto da Mulher Negra, do Levante Popular da Juventude, do Instituto do Negro Padre Batista entre outros tantos.
O resultado é satisfatório? Não. Na verdade é pouco. Muito menos que o justo. Mas em tempos de golpes e retrocesso, chega a dar um fôlego para continuar a luta.