Por Caio M Bessa
No inicio de março, um grupo de adolescentes, todos eles indígenas e pobres, se amotinaram num abrigo da Guatemala. Devido ao tempo dramático que vivemos, já dá para imaginar os desdobramentos trágicos deste assunto.
O abrigo, Virgen de la Asunción, fica na cidade de San José Pinula, à 25 km da cidade da Guatemala.
Segundo relato de alguns o lugar era conhecido como “inferno”. E muitas das menores, por serem indígenas e pobres, eram drogadas e prostituídas pelos próprios funcionários do abrigo.
No ínicio do motim, as meminas gritavam aos funcionários e policiais acusando-os de estupro.
Logo depois da fuga, algumas adolescentes foram recapturados, e as meninas, postas trancadas numa sala.
A grande tragédia é ocorre um incêndio na Sala, queimando-as vivas.
Até agora 40 morreram. Nove sobreviveram, foram levadas a hospitais norte-americanos para tratamentos intensivos.
Todas eram indígenas e pobres. O povo saiu massivamente em protesto exigindo justiça e a renúncia do presidente.
O presidente da Guatemala, Jimmy Morales, assumiu responsabilidade pelo ocorrido, pois as meninas estavam sob tutela do estado.
No mundo todo as mulheres são tratadas de maneira brutal. Se forem negras, indígenas, lgbt ou pobres a brutalidade aumenta.
E a escala de violência só cresce numa reprodução circular do que minorias excluídas.
Em vários países do mundo vemos os agentes de cada estado as tratando cruelmente.
Escrever esta matéria me lembrou de Chiapas, no México. Em 1994 seus residentes, na maioria indígena. Suas conquistas (e não quero julgar aqui o mérito de ser ou não uma revolta armada) perduram até hoje.
Tanto que em 2016, em congresso com outros indígenas, concordaram em lançar a candidatura de uma mulher indígena à presidência.
Não que o movimento Zapatista queira algo institucional a meu ver (e muitas reportagens também me indicam isso).
Mas é tentador e interessante tomarmos isto numa balança:
Na América latina faz muitos séculos que tratamos mulheres indígenas, de Malinche à estas 40 adolescentes, como escravas e objetos de uso e abuso, agora, aos poucos, sob muitas formas, elas se levantam pra nos mostrar um “basta”.
Há um crescente nos anos. Minorias que aos poucos vão tomando consciência, protagonizando suas lutas. Talvez demore mais uns anos, ou aconteça neste ano, não sabemos, mas de certo haverão outros levantes.
Outras formas de se dizer não aos vários abusos de um sistema que colapsa.
Cabe a cada um de nós, se informar e procurar estratégias para construir um mundo melhor que este, cuja a violência é capaz de abusar e queimar meninas indígenas e pobres em um abrigo, como se isso fosse natural.
por Caio M Bessa
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