Por Reinaldo Chaves/Calle2
Falta de integração e de intercâmbio de informações entre países latinos facilita expansão de facções brasileiras no controle das rotas do tráfico na Amazônia, Paraguai, Colômbia e Peru.
Além de refletirem as precárias condições das cadeias brasileiras, os massacres nos presídios do Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte, que deixaram pelo menos 134 mortos nas últimas duas semanas, têm uma origem alarmante: o crime organizado na América Latina já se tornou transnacional e grandes organizações criminosas lutam pelo controle das rotas de tráfico de drogas no Brasil e em países vizinhos.
As mortes envolveram integrantes das facções PCC (Primeiro Comando da Capital), FDN (Família do Norte) e Sindicato do Crime. O procurador de Justiça em São Paulo Márcio Sérgio Christino afirma que esses massacres são mais um sinal de que o primeiro cartel de drogas brasileiro, o Narcosul, já tem atuação concreta no país e no continente.
Apesar de o termo ainda não estar no estatuto da facção, Narcosul é o nome dado pelos criminosos ao “novo PCC”, consolidado após o controle da fronteira com o Paraguai, a partir de junho do ano passado, e que agora tem atuação internacional. Governos e fontes oficiais evitam essa expressão por receio de admitirem a internacionalização da facção, mas o Ministério Público já começou a usá-la para se referir ao crime transnacional da facção.
“O Narcosul, que é como os criminosos o chamam, é a rede criminosa que o PCC criou no Brasil e países vizinhos. O PCC primeiro controlou o tráfico no Sudeste e Sul do país, depois foi para a tríplice fronteira do Paraguai, Argentina e Brasil em conexão com a Bolívia e agora quer o Norte do país e a rota do Peru e da Colômbia, onde a Família do Norte ainda domina. O objetivo é tomar o país todo e boa parte do Cone Sul”, declara Christino.
Um dos marcos da internacionalização da facção é recente. O traficante Jorge Rafaat Toumani, 56, chamado de Rei da Fronteira, foi morto pelo PCC em junho de 2016 na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, fronteira com o Mato Grosso do Sul. Ele era considerado um dos barões do tráfico internacional de drogas e armas na fronteira.
“Com isso o PCC passou a ter controle de rotas de países produtores de maconha, cocaína e pasta-base e que comercializam armas, como a Bolívia e o Paraguai. Isso enfureceu outra forte facção brasileira, o Comando Vermelho”, afirma Christino.
A falta de integração entre países
Especialistas e estudiosos apontam que a ausência de implementações práticas de integração e intercâmbio de informações alimentam a internacionalização das facções brasileiras.
O Instituto Igarapé, que estuda a política sobre drogas nacional e global, critica a baixa adesão e participação dos países em acordos multilaterais contra o crime na América Latina. O Esquema Hemisférico contra a Criminalidade Organizada Transnacional, acordado na VI Cúpula de Chefes de Estado e de Governo das Américas, realizada em Cartagena (Colômbia) em 2012, precisa de implementação política na OEA (Organização dos Estados Americanos) e de maior cooperação de inteligência, policial e acesso à justiça pelos países.