Por Rodrigo Borges Delfim
Festa típica da área de La Paz, a Alasitas tem atraído bolivianos de todas as regiões do país – e o mesmo acontece quando é realizada no exterior. E a cidade de São Paulo, que abriga uma grande comunidade boliviana, recebeu nesta terça (24) mais uma edição do evento, espalhado por quatro pontos da capital paulista.
Neste ano, a Alasitas aconteceu no Memorial da América Latina, no Parque Dom Pedro II, na rua Coimbra (região do Brás e ponto bastante identificado com a comunidade boliviana) e no bairro da Penha, na zona leste da cidade.
A festa é celebrada em homenagem a Ekeko, deus andino da abundância. A alasita em si é a miniatura de qualquer objeto que os bolivianos ofertam a Ekeko na crença de que esse sonho se torne realidade – uma nova casa, um carro, um novo emprego, entre outros pedidos. Essas miniaturas podem ser encontradas facilmente em toda a parte na festa, ao lado de diversas opções de comidas e bebidas típicas, danças folclóricas, música, exposição de artesanato, entre outras atrações.
“A Alasitas tem um significado cultural e também de fé”, sintetiza o jornalista boliviano Zacarias Saavedra, natural de La Paz e voluntário do CAMI (Centro de Apoio ao Migrante). Ele participou da Alasitas no Memorial da América Latina.
Reconhecimento e expansão
Embora aconteça há 18 anos em São Paulo, somente em 2014 a Alasitas passou a fazer parte do calendário oficial de eventos da cidade. Para Rosana Camacho, secretária-executiva da ADRB (Associação de Residentes Bolivianos), a realização anual da Alasitas e seu reconhecimento no calendário de eventos de São Paulo é fruto de muito trabalho e ajuda a dar visibilidade para o migrante boliviano.
“Essa festa representa um resgate, um cultivo das nossas raízes e uma apresentação das nossas qualidades para São Paulo. Não temos apenas o trabalho para oferecer, temos muito a acrescentar a esta cidade”, completa ela, que também participou da Alasitas no Memorial da América Latina.
Dados da SPTuris apontam que São Paulo tem cerca de 60 mil bolivianos vivendo em situação regular, fazendo dela a segunda maior nacionalidade migrante na cidade, atrás apenas dos portugueses. Dados extraoficiais, no entanto, que englobam também pessoas ainda sem documentação, mostram cifras bem maiores.
Outro local de grande concentração de pessoas foi na região do Parque Dom Pedro II, onde a festa contou com a presença da nova secretária de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, Patricia Bezerra (veja aqui entrevista exclusiva concedida ao MigraMundo em janeiro deste ano). Ela garantiu que avanços recentes obtidos na cidade pelos migrantes e pela sociedade civil organizada serão mantidos e podem ainda ser ampliados. Patricia também se comprometeu em manter diálogo aberto e em trabalhar junto às comunidades migrantes.
As quatro festas, embora aconteçam no mesmo dia, são organizadas por grupos diferentes da comunidade boliviana. Para uns, é sinônimo de diversidade e opção de escolha; para outros, representa uma cisão que poderia ser superada.
“Mesmo estando pulverizada em diversos espaços, ela não perde sua beleza”, destaca a boliviana Veronica Yujira, coordenadora do coletivo Si, Yo Puedo, que busca promover a democratização da informação e do conhecimento junto a jovens migrantes.
Bolivianos, brasileiros, colombianos…
Quem pensa que a Alasitas atrai apenas bolivianos, se engana. Brasileiros e pessoas de outros países residentes na cidade também prestigiam o evento, às vezes em mais de um local.
“Achei mágico o sol ter aparecido depois de uma semana sem dar as caras”, celebrou a articuladora cultural colombiana Viviana Peña, que acompanhou as Alasitas no Memorial da América Latina e no Parque Dom Pedro.
Os atores Ian Noppeney e Giovana Arruda, que estão fazendo uma pesquisa de campo sobre migração latino-americana no Brasil e já estiveram na Alasitas em 2016, voltaram à festa neste ano. “A religiosidade deles é muito forte, e aqui fica ainda mais aflorada. É um encontro deles com a cultura deles, nós é que somos os imigrantes aqui. É um aprendizado excepcional. Por isso que eu acho tão bonito aqui”, ressalta Giovana.
O caráter popular da festa é destacado também por Veronica. “A Alasitas não traz só a questão religiosa, mas também da cultura aimará, que vem das práticas ancestrais, de se buscar energia positiva.