Apesar do governo nacional ter respondido à ONU de maneira evasiva e caricatural, convidando o grupo de trabalho sobre prisões arbitrárias a visitar a Argentina, a pressão internacional surtiu efeito. Primeiro libertaram há duas semanas Elba Galarza e María Molina, presas com ainda menos fundamentos do que a líder da Organização de Bairro Tupac Amaru, Milagro Sala

E no dia 25 se tornou realidade o fim do encarceramento para Raúl Noro, marido de Milagro Sala, e de outros três presos: Patricia Cabana, Miguel Ángel Sibila e Iván Altamirano.

A visita dos órgãos de Direitos humanos no dia 24, com Estela de Carlotto à frente, Lita Boitano, o secretário gera da CTA, Hugo Yasky, e outras personalidades, causou um golpe midiático, que parece obrigar o governo, a estas alturas, ilegítimo, de Gerardo Morales, a mitigar os danos.

Já livre da prisão domiciliar, Raúl Noro conversou com La García e disse que “Não ficaremos felizes até que Milagro recupere a liberdade, porque ela é a alma disso tudo. E a alma disso tudo, lamentavelmente, ainda está presa”.

Pediu para que a luta continue, “agora precisamos pressionar todos para que as resoluções das Nações Unidas sejam cumpridas, isso não está aberto à discussão”.

“Milagro ainda não foi acusada de nada. A prova disso é que eles retiraram a acusação pelo acampamento, que seria um grande espetáculo, não puderam fazer nada porque não tinham provas. Só têm versões de versões, de versões”, disse se referindo à anulação do julgamento oral que foi postergado, já que a justiça reconheceu não ter recebido as provas para levar a causa a julgamento.

Perguntado sobre a perseguição sofrida durante a ditadura civil-militar genocida e a perseguição atual, disse: “eu senti o mesmo quando estive preso na cadeia de Jujuy pela ditadura de Videla pelo repressor tenente Bulgheroni. Bulgheroni me disse naquela oportunidade que eles eram a lei e a Constituição, portanto nós estávamos à disposição deles, para qualquer coisa. Anos depois com a prisão de Milagro e a minha, tive a mesma sensação. Com um agravante, estamos na democracia. Mas eu tive a mesma sensação e não entendia o que estava acontecendo. E quando li as declarações do governador Gerardo Morales, aí caiu minha ficha, porque ele disse à toda imprensa, “não vou libertar essa mulher”. Disse a mesma coisa que o primeiro-tenente Bulgheroni sobre os militares. Ele é a lei, ele é o poder executivo, o poder legislativo e judiciário”.

Depois da denúncia pública, também teve tempo de lembrar e agradecer a todas as pessoas que estão lutando pela liberdade dos tupaqueros. “Preciso agradecer tanta gente que não tenho palavras. Os comitês, os companheiros e companheiras em todo o país e no estrangeiro, que estão fazendo esforços para que libertem a todos nós, começando por Milagro. Estela de Carlotto, Lita Boitano, as Mães da Praça de Maio, Yasky, Pablo Miceli, que estiveram no acampamento nos visitando. Os deputados nacionais, vereadores, provinciais, das diversas vertentes políticas, as pessoas de esquerda, Pérez Esquivel, que veio para ver Milagro e lhe trouxe uma mensagem de Rigoberta Menchú. Piedad Córdoba que sem conhecer Milagro, disse que era a heroína americana. São tantas as pessoas e os companheiros que não vou ter tempo. Mando a todos um abraço, minha solidariedade e um reiterado agradecimento”, foram suas palavras.

Para depois se comover ao enviar publicamente uma mensagem de apoio a sua mulher, a primeira presa política do milionário Mauricio Macri, “o que posso dizer a minha mulher? Quando falava com ela, me dava forças, tem essa coisa tão especial, essa energia que eu digo que vem de outro mundo e de outro tempo, que a fortalece e fortalece a todos nós, renova nossas esperanças e que ela mesma não sabe que possui. Milagro é algo como a encarnação do espírito da cultura andina no Século XX. Ela, além disso, é a pessoa que eu amo e quero lhe enviar tudo o que ela sabe que sinto por ela”.

 

 

Traduzido por Bruno Brando Farias do espanhol