Tradução de Raphael Sanz
A América Latina, com seus multitudinários rostos e multi etnias, é negra, tem a força e a resistência da afro descendência. Uma raiz milenar que seguimos negando como parte da nossa identidade cultural. Os afro descendentes na América Latina seguem sendo invisibilizados tanto ou mais que os povos indígenas.
Na beleza da Pátria Grande, entre as selvas e bacias dos rios Atrato e San Juan, no pacífico colombiano se encontra o departamento de Chocó; onde habitam etnias Emberá e os Waunana do baixo San Juan. Chocó, assim como Valle del Cauca, Nariño, Bolívar, Atlantico e Magdalena é a dignidade da afro descendência colombiana. Como os Garífunas em Guatemala, Honduras, Belize e Nicarágua na América Central. Como o Brasil, formosamente negro.
Para qualquer estudo sócio político cabe resenhar que Chocó é afro descendente. A desgraça de Chocó é sua assombrosa beleza natural, exuberante para os traidores da pátria. Começando pelo paramilitarismo (que duvido que desapareça com a Assinatura da Paz; na Guatemala, 19 anos depois de sua própria assinatura de paz, o paramilitarismo ainda está ativo, disfarçado de violência comum) e seguindo com as oligarquias sedentas de poder e dinheiro que obtêm às custas da vida de milhares de camponeses.
Chocó é um exemplo do que acontece no mundo (a África está nos ossos pela mesma razão, governos e contrabandistas europeus e estadunidenses saqueando-a durante séculos) e podemos exemplificar na América Latina com os governos neoliberais que recorrem à exportação de mineração, aos ecocídios, aos desaparecimentos forçados e assassinatos sem piedade para aterrorizar a população.
Se dizemos fome, abandono, morte, miséria e corrupção, pensando na Colômbia, imediatamente nos viria a mente La Guajira, mas Chocó está passando por uma calamidade bárbara a qual não pode dar nome algum. Seus habitantes vêm a décadas exigindo ao governo infraestrutura, educação, saúde, respeito aos Direitos Humanos e melhorar serviços públicos. Sim, uma realidade generalizada que pode ser vista ao longo do continente, (a exceção de países com governos progressistas que estão tratando de acabar com a desigualdade social) como resultado de políticas neoliberais que correspondem aos interesses do capitalismo.
Não é a Venezuela, é a Colômbia, é Chocó gritando a viva voz pela inclusão social e pelo respeito ao ecossistema e a vida. É Chocó exigindo o que por direito lhe corresponde. Pedindo que devolvam a terra e tudo o que foi roubado pela oligarquia. É Chocó implorando um basta ao paramilitarismo, às investidas governamentais que os obrigam a perecer na amargura da migração forçada. Chocó é afro descendente, Emberá e Waunana e exige a Juan Manuel Santos que cumpra com as promessas de campanha.
São os ancestrais, os avós, a infância, todos saindo às ruas m manifestações massivas, gritando ao mundo que “Chocó existe”! Que está viva, que respira, que sonha, que sofre e que sente. Que está ali: golpeada, abusada, explorada, ferida, mas resistindo. Chocó resiste! Dizemos Chocó e sentimos a Pátria. Dizemos Chocó e sentimos o mais profundo dos nossos anseios à Pátria Grande em busca de liberdade.
Dizemos Chocó e devemos pensar na população do país, é um povo que foi obrigado a migrar, a mobilidade, a deixar suas casas, suas terras, seus rios, seus anseios para buscar salvar suas próprias vidas em outras partes da Colômbia onde são vistos como abestados e excluídos: por serem negros!
Chocó existe, obvio que sim, mas só para as empresas transnacionais, a mineração, a corrupção, o desflorestamento e para o roubo de terras. Quando existirá Chocó como povo afro descendente, como Emberá e Waunana? Como dono legítimo de sua terra? Quando serão devolvidos seus direitos?
Dizemos Chocó e uma tristeza profunda nos embarga, porque é reflexo do que acontece na América Latina, Chocó somos nós; é nosso povo, nossa rua, nosso rio, nossos anseios irmãos. É nossa ilusão coletiva. Nossa luta, nosso trabalho e natureza. É nosso campo aberto florescido. É nosso milho crescendo, é o caribe banhado em sol.
Chocó somos todos os que ansiamos uma Pátria Grande em liberdade e florescida no sorriso da infância. De todos os que acreditamos na dignidade como essência humana. Dos que apostamos na sensibilidade coletiva, amorosa e fecunda. Dos que apostamos nas políticas de inclusão social. Na igualdade social. Dos que sonhamos em abolir para sempre o racismo, o elitismo, a insensibilidade e o egoísmo que tanto dano nos fazem.
Digo Chocó e digo Pátria Grande, e digo formosura da Mama África.