Quando se fala da problemática dos imigrantes e refugiados, muito se fala sobre quantos são eles, para aonde eles vão, de onde eles estão saindo, quais países os estão recebendo e etc… Porém pouco ou nada se fala do que leva uma pessoa a deixar seu país para viver em outro, geralmente em um estado de pobreza, com dificuldades para entender o novo idioma, com dificuldades para se inserir socialmente e também para procurar emprego e com o preconceito e a discriminação que sofrem onde quer que cheguem.

E foi no VII Fórum Mundial Social de Migrações, na sexta-feira (08/07) que aconteceu uma roda de conversa organizada pela Warmis falando sobre essa problemática através das palavras dos próprios imigrantes.

Compôs a mesa Fernando Suárez que é ativista humanista e argentino radicado no Brasil; Luambo Pitchou que é um migrante da república do Congo e que é um dos organizadores do GRIST, Grupo de Refugiados Sem Teto e advogado; e o Mohammed Othman que é um refugiado Palestino que está morando atualmente na Ocupação Leila Khaled e membro da MOPAT, Movimento Palestina para Tod@s sendo traduzido por Hasan Zarif que também faz parte do MOPAT.

Pitchou falou da exploração de tântalo na República do Congo e de sua história
Tudo começou com o trabalho escravo para produzir borracha por baixos preços. Ele diz que quem não conseguia atingir a meta que era dada pelos senhores tinha seus membros amputados.

Depois disso houve a colonização pela Bélgica e pouco tempo após a colonização começaram os movimentos de revolta a favor da independência. Todos que lutaram a favor da independência foram então assassinados.

Por fim houve um golpe de estado, porém o presidente que tomou o poder, Kabila, não atendeu as demandas populares tomando medidas autoritárias. Ele proibiu manifestações políticas e suspendeu a formação de partidos.

Os militares então tentaram acabar com esse regime através de pressões e revoltas populares, porém o presidente pediu apoio de outros países, instaurando assim o que é chamado de uma guerra cívil.

Porém, em 2001, Kabila foi morto e seu filho assumiu seu lugar e está lá até hoje.

É dito que desde 1996, com o começo dos conflitos, já morreram 6 milhões de pessoas e em 1994 houve o genocídio em Ruanda.

Ele também diz que 80% do tântalo, que é um tipo de ferro que é utilizado em aparelhos celulares passa pelo trabalho escravo ou pelo tráfico de minérios do Congo, que é patrocinado por grandes empresas que pagam aos países vizinhos pela matéria prima que, geralmente, é roubada do país através de invasões e saques.

Ele enfatiza que já são 20 anos de guerras e que as mídias propagam o preconceito contra eles para continuar tirando proveito da situação, pois eles não querem pagar um preço justo por tal minério, dessa forma a população do Congo chega a ser diminuída a menos do que ser humano.

Mohammed Othan conta a situação dos palestinos na Síria
Ele conta que tudo começa a se agravar em 1948, com os conflitos entre Palestina e Israel, quando começou as reinvidicações por terra dos dois lados por motivos culturais, religiosos e ideológicos e é nesse período que saem os primeiros refugiados da Síria, cerca de 40.000.

Depois houve o chamado Setembro Negro, onde mais uma leva de refugiados saíram do país, em 1970. Após isso houve a guerra do Líbano, onde mais uma quantidade de palestinos decide deixar a Síria e em 1991, novamente mais alguns palestinos deixam o país.

Em 2010, grande parte dos palestinos deixam a Síria por causa do começo de mais uma guerra. Eles saíram apenas com as roupas do corpo e foram acolhidos por 15 países. Ele cita o caso de 1 família que está espalhada por 10 países.

Atualmente, eles procuram ajuda para sobreviver, porém a fome, a pobreza e o preconceito os enfraquece na luta.

A mídia tenta invisibilizar a guerra da Síria, dizendo que também há guerras em outros lugares e escondendo o fato de que os Estados Unidos financia a guerra. E com o fortalecimento do ISIS, Estado Islâmico, começou uma propaganda anti-palestinos, onde eles são colocados como prováveis terroristas.

Quando chegam nos países, o principal problema que enfrentam é a demora para sair seus documentos, pois dessa forma são bastante explorados.

Então, no Brasil, decidem ocupar um prédio de 11 andares, atualmente chamado de Ocupação Leila Khaled dividindo metade dele para palestinos vindos da Síria e a outra metade para brasileiros que estavam precisando de moradia.

Por fim encerra sua fala dizendo que quer mudar o nome “refugiado” para “nós voltamos para casa”, afinal seu sonho é voltar a morar no país de onde saiu.

Fernando Suárez, apresenta dados e propõe soluções baseadas no humanismo
Atualmente existem 65 milhões de imigrantes e refugiados.

24 pessoas se refugiam por minuto, sendo que a Colômbia é o país com maior número de refugiados que decidem não sair do país, apenas se mudar de um local para outro.

No Brasil existem cerca de 8.600 refugiados e imigrantes que vieram de países que estão em guerra.

Com o dinheiro gasto na indústria bélica, seria possível acabar com a fome no mundo.

Porém, ele também diz que os países desenvolvidos não estão interessados em acabar com os conflitos, somente em fortalecer a própria economia através do capital e da exploração.

Ele acredita ser possível mudar o mundo através de uma revolução não violenta e baseada no humanismo, criando assim uma nova sociedade.

Por fim, ele diz que é importante criar conexões, pois os opressores estão conseguindo força para continuar fazendo o que fazem dessa forma, porém através de conexões baseadas no capital.

Confira mais fotos:

Mohammed Othan (esquerda) e seu tradutor a direita.

Mohammed Othan (esquerda) e Hasan Zarif (direita).

Luambo Pitchou (esquerda) e Fernando Suárez (direita).

Luambo Pitchou (esquerda) e Fernando Suárez (direita).

Texto: Silas Tibiriça

Fotos: Otavio Vidal