“Emigrar é sempre uma decisão difícil, decidimos deixar nossa terra natal sós ou com nossas famílias por diferentes motivos, muitas vezes esses motivos são lindos, estudos, amor ou vontade de viver uma experiência diferente, dentre outros; e muitas vezes é o contrário, somos obrigados a deixar nossos países devido as guerras, desastres naturais, crises econômicas.
Quando chegamos no Brasil nos é revelado que não temos direitos políticos, não podemos votar nem ser votados, não podemos nos manifestar, nem fazer parte de partidos políticos ou organizações sindicais.
Isso nos torna sujeitos vulneráveis pois nossa opinião não “importa” e portanto somos, geralmente, considerados uma “preocupação” secundária; das que não geram votos.
Esse é o contexto no qual nos movemos aqui no Brasil. Mas, para não ser injusta, devo reconhecer os esforços que tem sido feitos pelo governo municipal na inclusão das nossas discussões. Discussões que tem sido expostas e debatidas por nós, com representatividade, e não por outros que falem por nós. Também reconhecemos e agradecemos o esforço da Vereadora Juliana Cardoso pelo apoio e força na inclusão das nossas demandas na melhoria do atendimento ao parto nas mulheres imigrantes da cidade.
Agora falando das mulheres. A migração e o refugio são invisíveis, não existem, não acontecem para as pessoas, além da tela da televisão. As mulheres dentro desse contexto são ainda mais invisíveis e invisibilizadas, pois são as últimas a regularizar sua documentação e aprender a língua, são as que não tem emprego ou tem empregos precários. Também opera nelas a forte crença de que elas não podem reivindicar direitos pois são estrangeiras e isso lhes é proibido, ou que a polícia chegará e as levará detidas por estarem em situação irregular, pois elas não sabem que no Brasil nenhum ser humano é ilegal.
Resumindo, nós imigrantes sofremos todas as opressões do machismo e do sistema patriarcal somado à xenofobia (das pessoas e do estado) e ao racismo, no caso das imigrantes negras ou de traços indígenas.
Na Warmis acreditamos que é necessária e fundamental a participação real das imigrantes na vida cidadã do país, isso é porque nós aportamos expondo problemáticas que não são visíveis ao cidadão “comum” e trazemos experiências das diferentes formas de fazer política dos diferentes países.
Sempre encorajamos às mulheres a participar dos espaços que nos são abertos ou disponibilizados, tais como conferencias de migrantes e de mulheres, conselhos participativos municipais (no caso de São Paulo) e outras instancias como participação na construção de projetos de lei que beneficiariam a comunidade imigrante e por tanto à comunidade em geral. Também encorajamos às mulheres a participar de organizações sociais. Encorajamos às imigrantes a se organizarem e facilitamos nossa experiência e a experiência de 45 anos do Movimento Humanista para que elas possam se organizar sem depender de poderes económicos ou políticos.
Sabemos que enquanto não tenhamos direitos políticos garantidos por uma lei que tire a migração da lógica da segurança nacional e nos humanize, essa não será uma participação “real” senão mas bem simbólica, mas pelo menos esses espaços são importantes para entrarmos na visibilidade da sociedade, dos movimentos sociais brasileiros e dos representantes do poder político.
Precisamos que sejam garantidos mais espaços de discussão e decisão que envolvam mulheres imigrantes em todas as áreas, desde a melhoria no acesso à saúde, passando pelo reconhecimento das diversidades culturais dos nossos filhos, nascidos no pais, até a garantia de representatividade da mulher imigrante nos espaços de decisão.
Por último gostaria falar que as mulheres imigrantes e refugiadas não somos visitantes e não estamos aqui apenas como um enfeite que garante a diversidade do lugar, somos atores (ou atrizes) fundamentais no desenvolvimento das sociedades onde residimos.
Obrigada”