Em audiência pública sem precedentes, candidatos à sucessão de Ban Ki-moon enfrentam perguntas da Assembleia Geral, em procedimento similar a entrevista de emprego. Decisão final, porém, ainda é de membros permanentes.
Os candidatos à sucessão de Ban Ki-moon como secretário-geral da ONU começaram a enfrentar um interrogatório dos membros da Assembleia Geral, nos moldes de uma entrevista de emprego comum. A audiência pública é sem precedentes, já que as Nações Unidas normalmente adotavam um processo estritamente reservado de eleição.
O ministro das Relações Exteriores de Montenegro, Igor Luksic, foi o primeiro dos oito candidatos a ser questionado pela Assembleia Geral, na terça-feira (12/04).
Os postulantes à vaga de Ban Ki-moon, que deixará o cargo em 31 de dezembro, respondem a perguntas sobre como eles lidariam com alguns dos maiores desafios do mundo, como as alterações climáticas e os esforços para alcançar a paz, mas também como resolveriam problemas dentro da própria ONU, tais como o abuso sexual de soldados da organização.
As audiências, que também foram transmitidas ao vivo pelo site da ONU, romperam com o costumeiro sigilo em torno da eleição de um chefe da entidade. Ao longo da história de sete décadas das Nações Unidas, o processo tem sido largamente mantido a portas fechadas, com a escolha firmemente nas mãos do Conselho de Segurança e de seus cinco membros permanentes: EUA, Reino Unido, Rússia, França e China.
Pressão sobre membros permanentes
No ano passado, no entanto, a ONU decidiu modificar o status quo e pediu que os candidatos enviassem uma candidatura formal, com apresentação de currículos e presença em audiências.
De acordo com a Carta das Nações Unidas, a decisão final de nomear o sucessor de Ban Ki-moon é do Conselho de Segurança. Mas a abertura no processo seletivo poderia aumentar a pressão sobre grandes potências para escolher um candidato com um apelo mais amplo.
“Este é um exercício com potencial de mudar o jogo”, disse o presidente da Assembleia Geral, Mogen Lykketoft. “Se há uma massa crítica de países que apoiam um candidato único, não acho que veremos o Conselho de Segurança apresentando um nome bastante diferente.”
Vez da Europa Oriental?
O cargo de secretário-geral da ONU, tradicionalmente, sofre uma rotação entre as regiões do mundo. Ásia, África, América Latina e Europa já tiveram representantes ocupando o posto máximo. A Rússia argumentou que o próximo chefe da ONU deve vir da Europa Oriental, única região que ainda não foi representada. Também nunca houve uma secretária-geral.
Dos oito candidatos, quatro são mulheres e quatro são homens – seis da Europa Oriental, um da Europa Ocidental e um da região Ásia-Pacífico. São eles:
Irina Bokova (Bulgária): ex-ministra do Exterior da Bulgária e atual diretora-geral da Unesco.
Natalia Gherman (Moldávia): primeira-ministra da Moldávia.
Helen Clark (Nova Zelândia): ex-premiê da Nova Zelândia e atual chefe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Vesna Pusic (Croácia): ex-ministra das Relações Exteriores da Croácia.
Igor Luksic (Montenegro): ministro do Exterior de Montenegro.
Danilo Türk (Eslovênia): ex-presidente da Eslovênia.
Srgja Kerim (Macedônia): ex-presidente da Assembleia Geral da ONU.
António Guterres (Portugal): ex-premiê de Portugal e exerceu o cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados.
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