Levará tempo até que as ruínas da histórica cidade síria, libertada do “Estado Islâmico” recentemente, possam atrair turistas novamente. Há armadilhas por todos os cantos, relata o correspondente Juri Rescheto.
Meus joelhos estão fracos – e não só por cansaço, mas também por respeito. Estou em Palmira, perante os primórdios da civilização. Honestamente, não estou muito interessado nos tesouros arquitetônicos roubados, nem no que foi destruído pelo “Estado Islâmico” (EI), ou mesmo naquilo que simplesmente se deteriorou ao longo dos milhares de anos da história da humanidade.
As ruínas são simplesmente espetaculares. Elas brilham como ouro, expostas na luz brilhante do deserto sírio sob um céu azul e sem nuvens.
O portão da cidade, o anfiteatro e as colunas mundialmente famosas do primeiro século depois de Cristo constituem um Patrimônio da Humanidade. Palmira se encontra novamente pacífica e bela, depois que as tropas do EI foram expulsas daqui.
A cidade está calma, não há vento. Ouve-se apenas o clique da câmera dos repórteres que viajam comigo. Falamos uns com os outros em voz baixa. Acompanhados do Exército russo, somos os primeiros jornalistas a visitar Palmira após a libertação.
Minas por todo lado
Meus joelhos estão fracos também por medo de haver uma explosão a qualquer momento, a qualquer passo fora do caminho seguro. Palmira está repleta de minas terrestres, o que torna a visita a essa cidade histórica extremamente perigosa – uma ameaça à vida, para ser mais claro.
Na Alemanha, eu provavelmente teria de assinar muitos papéis antes de chegar a um local como esse – “Entre por sua própria conta e risco”. Os russos, mesmo parecendo um tanto mais relaxados, nos advertiram.
“Eu estive em cinco guerras, mas nunca vi nada como isso”, conta Igor Konashenkov, porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia. “Há minas por todo o lado: nas paredes, no teto, no piso, e até nas ruas, cobertas por pedras ou asfalto.”
Especialistas afirmam que 80% das ruínas de Palmira estão em suas condições originais, ou seja, não foram danificadas durante a invasão do EI à cidade. Ainda assim, o que segue de pé pode simplesmente desaparecer se os peritos em demolição derem um passo em falso.
Um grupo de homens vestindo macacão verde-escuro, capacete e óculos de proteção andam pelo local como se fossem astronautas na superfície de Marte – devagar e em passos curtos e muito bem calculados. Eles são caça-minas russos e trabalham com ajuda de um cão farejador de bombas e um robô que se move de forma autônoma.
“Não é tão fácil para o cachorro”, explica o tenente Alexei Makarenko, que lidera a equipe. “Está muito quente, e o aumento da temperatura é muito brusco. O cão veio direto do frio da Rússia para o calor do deserto sírio. Humanos se acostumam mais rapidamente.”
Entre trauma e esperança
Ahmad Deeb, diretor de assuntos museológicos para a cidade de Palmira, chega ao local. De boné e bigode, ele é um homem rechonchudo por volta de seus 60 anos. Meu primeiro pensamento: ele está vivo. O colega dele, Khaled Asaad, arqueólogo-chefe da histórica cidade oásis, não está mais. Em agosto, ele foi decapitado em praça pública pelo EI, diante dos olhos de vários espectadores. Um assassinato brutal. E Asaad não foi o único executado aqui em nome do islã.
Em um discurso breve e floreado, Ahmad Deeb agradece aos russos. Sem o Exército, afirma, essa bela flor do deserto nunca floresceria novamente. Ele está tenso – e eu posso compreendê-lo.
Deixamos a parte histórica da cidade após três horas. “Nossos soldados não estão cumprindo apenas uma missão militar aqui, mas também uma missão cultural e até mesmo humanitária”, diz o major-general Konashenkov, no caminho para o centro de Palmira, dentro de um veículo blindado. “Estamos devolvendo para a humanidade aquilo que foi criado há milhares de anos” – soa um pouco dramático, mas é verdade. Os russos estão criando fatos. E o fato é que Palmira foi libertada.
Mas a população da Palmira moderna não pode usufruir totalmente dessa nova liberdade. Quando chegamos, havia cerca de 200 pessoas na praça do mercado. Elas carregavam uma expressão exausta, traumatizados pela intimidação e tortura causadas pelo EI. As pessoas que retornavam ao local não reconheciam sua cidade devastada. Quem ficou, por sua vez, foi forçado a testemunhar a destruição de bairros inteiros. Aqui também há muitas minas.
Palmira já teve uma população de 70 mil pessoas. Cerca de 15 mil delas sobreviveram aos dez meses de ocupação do EI. Mas há esperança para eles aqui?
“Precisaremos de apenas três meses para retomar os serviços da cidade”, garante Konashenkov. À esquerda dele, um homem sobe num poste de energia. A eletricidade é prioridade. “Tendo isso, a vida começará a fluir de novo aqui”, diz um morador, sorrindo.
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