Nesta quarta-feira, 13, mulheres de Pernambuco se encontraram na Praça do Diário, centro do Recife, em defesa da democracia. O ato reuniu cerca de 800 mulheres que participam de diversas organizações, movimentos feministas, fóruns, coletivos, estudantes, setoriais de mulheres sindicalistas, grupos culturais de afoxé, coco e samba.
Por Paula de Andrade, SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia e Sylvia Siqueira, Mirim Brasil – Movimento Infanto juvenil de Reivindicação
A programação foi recheada de atrações. O ato começou com as batucadas do Levante Popular da Juventude, da Marcha Mundial de Mulheres e do Fórum de Mulheres de Pernambuco. Também teve poesia com Rosa Amorim. A animação seguiu entre uma fala e outra, e contou com o Maracatu Cabinda Africano e Samba de Iaiá. O ato finalizou por volta das 21h.
A mobilização foi coordenada por movimentos feministas, entidades de mulheres ativistas por direitos humanos, pelos direitos das mulheres. Mulheres que lutam contra o racismo, o neoliberalismo, a homofobia/lesbofobia e o patriarcado.
Articulação – Segundo a coordenação do ato, o encontro de ontem marca a existência de um campo político que reivindica o aprimoramento da nossa democracia, e não uma ruptura. As organizadoras do ato desenvolvem ações conjuntas há mais de um ano. No último 8 de março, Dia Internacional da Mulher, mobilizaram mais de 7 mil mulheres que saíram em passeata do Parque 13 de maio à Praça do Derby. A ideia do «Mulheres pela Democracia» surgiu na semana passada. Tamanho e idade não é atestado de luta. No grupo existem organizações com mais de 35 anos, como o SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, e outras mais recentes como é o caso do Vaca Profana, coletivo formado a partir de um bloco de carnaval que denuncia o abuso e a exploração do corpo da mulher. «Queremos todas as mulheres. Aquelas que estão nos bairros, nas associações de moradores, clubes de mães, quadrilhas juninas. Nenhuma mulher pode ficar de fora na luta pela democracia», afirma Rejane Pereira, coordenadora da ONG Cidadania Feminina.
“Estamos num momento decisivo contra o golpe jurídico-parlamentar-midiático. Consideramos que o processo de impeachment que será votado no plenário da Câmara dos Deputados não tem base legal, porque não tem crime. É um golpe orquestrado por quem, historicamente, viola nossos direitos à terra, à soberania nutricional e alimentar, à educação e à saúde pública de qualidade, à comunicação. Vimos isso em 1964, quando lutávamos pelas mesmas reformas que hoje reivindicamos. Nós defendemos a memória, a verdade e a justiça. Não permitiremos que a luta de Soledad Barrett, Helenira Rezende, Nilda Cunha e tantas outras militantes que deram a vida pelo fim da ditadura tenha sido em vão. Mas nossa luta não é apenas pela permanência do atual governo, queremos mais. Estamos mais firmes contra o fascismo e o neoliberalismo. Queremos um projeto de nação do povo para o povo”, argumenta Elisa Maria, militante da Marcha Mundial de Mulheres.
A feminista Carmen Silva, do Fórum de Mulheres de Pernambuco, aponta que o primeiro desafio para a democracia no Brasil, hoje, é não aprovar o pedido de impeachment de uma Presidenta que não cometeu crime e foi eleita de forma legítima. “Mas a nossa luta vai adiante. Nós, dos movimentos sociais de esquerda, vamos pressionar para garantir uma guinada deste governo à esquerda para garantir mais direitos para a classe trabalhadora, as mulheres, o povo negro, as juventudes, a população do campo que vêm sofrendo com esta política econômica, de ajuste fiscal. Nossa luta é mais longa do que este momento de crise”, explica. Ela também afirma que a direita não está suportando que uma mulher governe o Brasil. “É parte do golpe o preconceito e o machismo que estão direcionando à Presidenta. E nós, dos movimentos de mulheres e feministas, estamos denunciando. Nós, mulheres brasileiras, podemos estar em qualquer lugar, inclusive na Presidência da República. Sem feminismo, não há democracia”.
Além das organizações autônomas de mulheres, o ato também contou com secretarias e setoriais de mulheres de três partidos: PSOL, PCdoB, PT. De acordo com Suely Oliveira, da Secretaria de Mulheres do PT, o momento requer um estado de alerta permanente diante das ameaças aos direitos já conquistados. Durante o ato, foi lançado o Comitê Mulheres pela Democracia. «A sociedade brasileira reconhece as conquistas dos últimos 13 anos, e se mobiliza para radicalizar a construção da democracia. Por isso, entendemos que o objetivo do Comitê é maior do que a defesa de um governo: é a defesa de todo um sistema de direitos conquistados por nós e que precisa ser aprimorado». Suely ainda ressalta que a luta seguirá após o dia 17 de abril, independentemente do resultado da votação do impeachment no Congresso Nacional, para que não ocorra nenhum retrocesso do governo federal nas políticas para as mulheres.
Comitês de mulheres – Pernambuco é o 5º estado a realizar o Ato “Mulheres pela Democracia” e a formar comitê. As mulheres do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e São Paulo realizaram seus atos e agora inspiram o país.