Pré-candidato presidencial dos EUA, que defende soberania dos países hermanos e critica intervencionismo, deixa legado, mesmo se não ganhar as prévias (ou as eleições).
Por Isabela Macedo
Quando Bernie Sanders entrou para a disputa presidencial, havia poucas expectativas de que ele pudesse ter visibilidade midiática ou que pudesse ganhar as primárias. Bernie se declara socialista-democrata, sempre militou como independente – à margem dos pólos Democrata e Republicano –, era pouco conhecido nacionalmente e tinha pouco apoio do establishment. Como poderia ameaçar Hillary Clinton? A concorrente que conta com o apoio de grandes empresas e de Wall Street, é conhecida em todo o país e ainda tem como suporte a imagem do carismático ex-presidente Bill Clinton.
Inesperadamente, o previsível não aconteceu e Bernie Sanders tornou-se um pré-candidato forte que ganhou grande repercussão na imprensa nacional e internacional, tornando-se um obstáculo na suposta ‘fácil’ caminhada de Hillary para a presidência.
A maior força de Bernie contra Hillary reside justamente no que era pensado como a sua maior fraqueza – um discurso político tão inabitual que rompeu com a previsibilidade da campanha presidencial. Sanders, de passado marxista e inclusive com militância na América Latina, é a favor da taxação de grandes fortunas, é contra os tratados de livre comércio baseados nas políticas do FMI e do Banco Mundial, recusa ser financiado por grandes corporações e por Wall Street e defende direitos aos imigrantes, sejam eles ilegais ou não. Posiciona-se também contra a política intervencionista dos Estados Unidos em outros países, com declarações fortes: não exime os Estados Unidos da responsabilidade em criar o ISIS (Estado Islâmico) e critica a intervenção em países latinos.
Bernie vem ganhando visibilidade mundial por seu discurso anti-imperialista, e, na América Latina, por defender uma política de respeito à soberania dos países hermanos. Em vários episódios de seu passado político, Bernie visita países latinos e volta para os EUA com uma narrativa diferente da oficial.
Em 1985, quando era prefeito da cidade de Burlington (Vermont), Sanders viajou para a Nicarágua quando os Estados Unidos realizavam uma intervenção paramilitar para derrubar o governo dos sandinistas. Na volta, o político gravou uma entrevista e relata que esteve nas ruas e perguntou a vários nicaraguenses se ele concordavam com as intervenções estado-unidenses. A resposta da maioria dos nicaraguenses era que não. Inclusive mesmo aqueles que discordavam do governo acreditavam que era um momento para os nicaraguenses construírem a sua história, sem a intervenção estrangeira.
Em 1989, Bernie foi para Cuba para conhecer melhor a realidade da ilha e para se encontrar com Fidel Castro. Ele não teve sucesso no encontro com Fidel, porém regressa, mais uma vez, com um discurso diferente do oficial: disse que viu Cuba como um país com muitas dificuldades, mas com um enorme progresso que melhorou a vida dos trabalhadores e dos pobres. Destacou também que não viu crianças passando fome, tampouco moradores de rua, e elogiou o programa de saúde cubano. Nos atuais debates presidenciais, critica o fato de não haver uma democracia em Cuba, porém reitera os elogios aos avanços do governos cubano nas últimas décadas.
Em 2006, Sanders, então senador pelo Estado de Vermont, fechou um acordo comercial com Hugo Chávez. Comprou gás natural da Venezuela mais barato para fornecer à população de baixa renda do Estado com um desconto de 40%. Além disso, aceitou a doação de 108.000 galões de Chávez que seriam usados para aquecimento dos abrigos para moradores de rua.