Em edição especial do Sarau do Binho, em Taboão da Serra (SP), movimentos periféricos recitaram poesias como forma de discutir o cenário político e se posicionar contra a tentativa de golpe à democracia instaurada no país
Por Adolfo Garroux, no Jornalistas Livres via Revista Forum
24 de março de 2016. Véspera do feriado de Páscoa. 21h. Um sarau em Taboão da Serra reúne cerca de 500 pessoas para recitar poesia e discutir o momento político atual. É nesse dia que começa uma revolução.
O local: Espaço Clariô. Um galpão inaugurado em 2005 que abriga o grupo de mesmo nome, autodefinido como um “coletivo arte resistente”. Por meio da cena e da troca com outros coletivos, eles discutem a arte produzida PELA periferia, NA periferia e PARA a periferia, em uma região que sofre com enchentes e com o descaso do poder público.
Acontece, uma vez por mês, o Sarau do Binho. E nesse dia 24 aconteceu a leitura do Manifesto #PeriferiasContraoGolpe.
O manifesto surgiu dias antes, numa reunião na Ação Educativa na qual mais de 60 coletivos culturais se uniram para discutir o Golpe (leia-se impeachment) em andamento e o que fazer para se contrapor a ele.
Cerca de 500 pessoas de todas as quebradas das zonas norte, sul, leste, oeste e centro estiveram presentes. No palco, poesia e política se misturaram.
Microfone aberto. O primeiro a falar é o poeta e músico Gnão Oliveira. “Eu acho que a gente tem que se unir mesmo. Foi uma boa isso ter acontecido porque a gente está começando a se olhar. Durante muito tempo os movimentos correram separados e agora a gente está conseguindo convergir”. Ele lembrou também que, na Itália, um processo semelhante se deu em Berlusconi.
Na sequência, mais alguns poetas e poetisas, periféricos e periféricas, subiram ao palco e declamarem seus versos. Depois de meia hora, Binho abriu o microfone para quem quisesse falar sobre reforma política.
Algumas pessoas se revezaram no palco e não pouparam o atual governo federal de críticas. Todas reconheceram que, apesar dos avanços e ganhos dos últimos 12 anos, muito mais poderia ter sido feito pelas Periferias desse Brasil. Mas, ao mesmo tempo, todos têm a clareza de que se as forças que orquestram o golpe assumirem o poder haverá imensos retrocessos nas liberdades individuais e nos ganhos sociais dos últimos anos.
Também foram feitas críticas pesadas ao governo estadual e aos ladrões de merenda.
Às 23h, após muita música, poesia e política, entraram no palco Luiza Romão, Martinha Soares, Mara Esteves e Semayat, e começaram a ler o Manifesto.
“Periferias, vielas, cortiços… Você deve estar pensando o que você tem a ver com isso.
Nós, moradores e moradoras das Periferias, que nunca dormimos enquanto o gigante acordava, estamos aqui pra mandar um salve bem sonoro aos fascistas: somos contra mais um Golpe que está em curso e que nos atinge diretamente!” (veja o manifesto completo aqui…)
Em menos de uma semana, as Periferias se reuniram, lançaram um manifesto publicamente e partiram – como sempre fazem – para a ação.
Ao final do Sarau, a impressão que fica é que as Periferias estão mais unidas do que nunca na tentativa de barrar o Golpe em andamento.
Por isso o grito das #PeriferiasContraoGolpe.
Por isso que, apesar das divergências, todos se unem em um só grito: Não vai ter Golpe, vai ter Luta!