Apesar de contrárias ao golpe, entidades do movimento negro fazem duras críticas às políticas econômicas que fazem com que os mais pobres paguem pela crise.
Mais de 70 Entidades, grupos e representações do Movimento Negro Brasileiro lançaram uma nota em que se colocam contra qualquer retrocesso conservador no país, mas ao mesmo tempo criticam o governo Dilma e cobram mudanças: “O governo federal, alvo das incursões destes setores mais conservadores, ao invés de enfrentá-los, continua sucumbindo e impondo uma agenda muito similar ao de seus algozes(…) é preciso uma mudança de rumo desse governo. A população negra não pode pagar pela crise econômica e política do país.”
A nota, que é fruto de um esforço político de busca de convergência entre diferentes campos político-ideológicos do movimento negro, afirma também que sua prioridade é “o enfrentamento à política genocida, contra a redução dos direitos trabalhistas, contra a reforma da previdência, contra os cortes em programas sociais como saúde e educação”.
Confira o documento na íntegra:
NEGRAS E NEGROS CONTRA O RETROCESSO
Brasil, 9 de março de 2016
Neste mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher e inspiradas nas histórias de centenas de mulheres negras na luta contra a Escravidão, na preservação das nossas religiões de matrizes africanas, na manutenção de nossa cultura e entre tantos elementos a mais, as Entidades Sociais que conformam o Movimento Negro Brasileiro, reunidas sob a égide da Convergência, vêm a público manifestar sua posição consensual contra a tentativa de golpe articulada pelos setores conservadores com apoio da mídia e por meio de ações de parte do Judiciário.
Dessa forma, apresentamos os seguintes apontamentos:
1 – Os setores que protagonizam esta tentativa golpista historicamente defendem propostas contra as bandeiras de luta do movimento negro e popular: Defendem a redução da maioridade penal; são contra as cotas e as ações afirmativas; atuam para retirar as perspectivas racial e de gênero dos planos de educação entre outros;
2 – Pressionam pela imposição de uma agenda neoliberal; pela entrega do pré-sal e do patrimônio nacional às empresas estrangeiras e o pleno atendimento das demandas do grande capital financeiro;
3 – Estes setores defendem o recrudescimento das políticas repressivas, da violência policial e do genocídio da população negra;
4- Combatem as reivindicações das mulheres negras, a descriminalização do aborto, pregam o esvaziamento das poucas políticas públicas direcionadas às mulheres, notadamente as mulheres negras, tais como as trabalhadoras domésticas;
5 – Reconhecemos que os significativos avanços promovidos contra a miséria extrema, a fome, a inclusão de milhares de jovens negros e negras nas universidades além da implantação de políticas de promoção e igualdade racial, são, entre outros fatores, elementos que levam as elites brasileiras se unirem e atacarem o atual governo.
6 – O governo federal, alvo das incursões destes setores mais conservadores, ao invés de enfrentá-los, continua sucumbindo e impondo uma agenda muito similar ao de seus algozes, sobretudo nos aspectos econômicos e em iniciativas tal qual a lei antiterrorismo. Somos contra o Impeachment da atual presidenta e não toleraremos qualquer tentativa de golpe à nossa frágil e insuficiente democracia. Mas é preciso uma mudança de rumo desse governo. A população negra não pode pagar pela crise econômica e política do país. O Movimento Negro brasileiro afirma uma agenda de enfrentamento à política genocida, contra a redução dos direitos trabalhistas, contra a reforma da previdência, contra os cortes em programas sociais como saúde e educação.
Nós que atuamos na luta contra o racismo e as desigualdades étnico-raciais, temos a convicção que qualquer ruptura com o frágil e ainda pouco eficaz processo democrático atingirá de forma mais grave o conjunto da população negra.
Somos a favor da investigação de todos os casos de corrupção, mas não ao uso oportunista disso para impor uma agenda antipopular que penalize ainda mais nosso povo negro.
Trazemos em nossa ancestralidade toda uma história de luta e resistência que estamos dispostos a honrar neste momento tão importante na história deste Brasil que é nosso e construímos com cada gota do nosso suor.
A solução para a crise está na adesão às propostas históricas dos movimentos populares e do movimento negro.
EM FRENTE E PELA ESQUERDA. RETROCESSO NUNCA MAIS!
Assinam:
ABPN – Associação Brasileira de Pesquisadores Negros
APNs – Agentes Pastorais Negros
CEN – Coletivo de Entidades Negras
Círculo Palmarino
CONAJIRA – Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial
CONAQ – Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas
CONEN – Coordenação Nacional de Entidades Negras
ENEGRECER – Coletivo Nacional de Juventude Negra
FNMN – Fórum Nacional de Mulheres Negras
FONAJUNE – Fórum Nacional de Juventude Negra
Instituto Luiz Gama
MNU – Movimento Negro Unificado
Quilombação
Rede Afro LGBT
RAN – Rede Amazônia Negra
UNEAFRO BRASIL
UNEGRO – União de Negros pela Igualdade
Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras – AMNB
Associação Franciscana de Defesa de Direitos e Formação Popular
Associação Nacional de empresários e Empreendedores Afrobrasileiros – ANCEABRA
Associação Religiosa de Tradição Afro-Cubana Ifanilorun
Bloco Afro Quilombo de Sergipe
Blog Negro Belchior
Bocada Forte Hip Hop
Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – CEDENPA
Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Educação, Gênero, Raça e Etnia – CEPEGRE/UEMS
Centro de Estudos e Referência da Cultura Afrobrasileira do Acre – CERNEGRO
Centro Nacional de Africanidades e Resistência – CENARAB
Coletivo Afrontar de Uberaba/MG
Coletivo CIATA do LPEQI
Coletivo Mocambo Cultural
Conselho de Entidades Negras do Interios do Estado do Rio de Janeiro – CENIERJ
Conselho Municipal de Igualdade Racial de Osasco
Conselho Municipal de política Étnico Racial de Curitiba
Consorcio Nacional dos Núcleos de Estudos Afrobrasileiros – CONNEABS
Dandaras no Cerrado
Federação Juvenil Comunista de la Argentina
Federação Nacional das Associações de Pessoas com Doenças Falciforme – FENAFAL
Federação das Religiões de Matriz Africana do Acre – FEREMAAC
Forum Sergipano dos Povos de Matriz Africanas
Fórum de Educação e Diversidade Etnorracial do Rio Grande do Sul
Fórum Estadual Setorial de Culturas Afro-brasileiras/ PA
Grupo de Estudos e Pesquisas em Relações Étnico-raciais, Educação e Formação de Professores. FE/UF – GREED
Grupo de Música Percussiva Gantó
Grupo de Pesquisas Religiosidades e Festas
Grupo Tortura Nunca Mais do Estado de São Paulo – GTNM/SP
Geledés Instituto da Mulher Negra
Instituto de Capoeira Cordão de Ouro – Mato Grosso do Sul
Instituto Ganga Zumba
Associação Franciscana DDHFP
Instituto Mocambo do Pará
Instituto da Mulher Negra de Mato Grosso – IMUNE
Instituto Nangetu de Tradição Afro-Religiosa e Desenvolvimento Social/ PA
Instituto de Resistência Cultural Afro-brasileira – Moviasés Guarulhos
Núcleo da Comunidade Negra de Osasco – NUCONO
NEAB/Unifesp
Núcleo Estadual da Marcha das Mulheres Negras do Espírito Santo
Núcleo Estadual de Mulheres Negras do Espírito Santo
Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal do Espírito Santo – NEAB/UFES
Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal de Juiz de Fora – NEAB-UFJF
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade do Estado de Santa Catarina – NEAB/UDESC
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Sertão
Núcleo Negro Unifesp Guarulhos
Opaas – Observatório das Políticas de Ações Afirmativas do Sudeste
Pastoral Afro Achiropita
Portal Alma Preta
REATA – Rede Amazônica de Tradições de Matriz Africana
Secretaria de Combate ao Racismo da Federação Interestadual dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – FITMETAL
Secretaria Nacional de Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
Casa de Tradição e Cultura Afro-Brasileira de Minas Gerais – Ilê AxéOgunfunmilayo
Sociedade Comunitária “Fala Negão \ Fala Mulher” da Zona Leste de São Paulo
Instituto Das Pretas do Espírito Santo
QUILOMBHOJE Literatura
Fonte: Carta Maior