Em carta à Casa Branca, ex-militares dizem que uso dos dispositivos aumenta ódio contra o Ocidente e influência de grupos como o EI. “Não podemos ficar em silêncio e testemunhar tragédias como os ataques em Paris.”

Em carta direcionada à Casa Branca, quatro ex-operadores de drones dos Estados Unidos afirmaram que os ataques aéreos contra o grupo “Estado Islâmico” (EI) propagam o ódio contra o Ocidente e alimentam o terrorismo.
Segundo os antigos militares, o uso dos aviões não tripulados é “um dos motores mais potentes para o terrorismo e a desestabilização no mundo”, diz o documento dirigido ao presidente Barack Obama, ao secretário de Defesa, Ashton Carter, e ao diretor da CIA, John Brennan, e publicado no jornal britânico The Guardian nesta semana.
“Chegamos à conclusão de que os civis inocentes que nós matamos só aumentaram o sentimento de ódio que move grupos como o EI, servindo como ferramenta fundamental de recrutamento”, diz a carta, solicitando ao governo dos EUA que “reconsidere a sua abordagem”.
Os quatro operadores que deixaram a Força Aérea americana tinham cerca de 20 anos de experiência. Brandon Bryant, Stephen Lewis e Michael Haas eram responsáveis por gerir os sensores e sistemas de alvo dos drones e Cian Westmoreland era técnico em infraestruturas de comunicação.
Em entrevista ao jornal britânico, Bryant contou que numa operação ele e sua equipe mataram cinco pessoas e um camelo que se dirigiam do Paquistão para o Afeganistão, mesmo sem ter certeza de quem eles eram e o que estavam fazendo.
“Esperamos eles se deitarem em suas camas e os matamos enquanto dormiam. Foi um assassinato covarde”, disse.
Quando deixou a Força Aérea, Bryant recebeu uma carta em envelope fechado sobre o número de eliminações para as quais tinha contribuído: 1.626. Ele relata que o remorso o levou a desenvolver a síndrome do estresse pós-traumático.
Programa de drones
O governo de Obama expandiu o programa de drones americano para intensificar os ataques contra a Al-Qaeda e o EI no Oriente Médio, procurando não reenviar tropas terrestres à região depois das guerras no Afeganistão e Iraque.
Uma investigação feita pela plataforma The Intercept, divulgada em outubro, acusa os EUA de subestimar o número de civis mortos em ataques com drones. De acordo com o relatório, num período de cinco meses, cerca de 90% das vítimas não estavam entre os alvos pretendidos.
“Não podemos ficar em silêncio e testemunhar tragédias como os ataques em Paris sabendo dos efeitos devastadores que o programa de drones tem no exterior e nos EUA”, diz a carta.

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