Centenas de agricultores de todo o país expõem e vendem seu trabalho no Parque da Água Branca. “O MST também é produção”, lembra dirigente.
por Vitor Nuzzi, da Rede Brasil Atual
São Paulo – Uma variedade de produtos e sotaques invadiu hoje (22) o Parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo, com a abertura da 1ª Feira Nacional da Reforma Agrária. Centenas de agricultores de todas as regiões mostram a diversidade brasileira no campo, com itens como açúcar mascavo, café, farinha, arroz, feijão, rapadura, mel, leite integral, doces, melado, castanhas, mate, fubá, xarope, algas marinhas desidratadas, frutas, queijo, sucos, cachaça. Organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a feira também terá atividades culturais, shows e praça de alimentação com comidas típicas de cada região.
“As feiras já são muito tradicionais no interior deste Brasil. A ideia é fazer uma amostragem geral. Normalmente se conhece o MST pelo conflito, pela ocupação. O MST é luta, mas também é produção”, diz o dirigente nacional Gilmar Mauro. “Também queremos fazer o debate sobre que tipo de uso queremos dar ao solo, que tipo de produto queremos comer. Cada vez mais estamos destruindo o ambiente, envenenando o solo.”
Um dos objetivos é dar visibilidade à produção de acampamentos e assentamentos, que costuma não ter espaço na mídia tradicional. “Não é todo mundo, por exemplo, que sabe que a maior produção de arroz orgânico da América Latina pertence aos assentamentos da reforma agrária”, diz Carla Guindani, do setor de produção do MST. Os organizadores esperam reunir 800 produtores de todos os estados e comercializar 200 toneladas de produtos.
O técnico em agropecuária Reinaldo Costa veio de Açailândia, no Maranhão, onde ficam os assentamentos Califórnia e Terra Nova. Veio com grupo de produtores que incluiu também Pará e Tocantins. Uma viagem de três noites e dois dias. “Chegamos ontem à noite”, conta Reinaldo, que trabalha no Terra Nova desde 2001, ainda no processo de divisão de lotes. Na feira, mostrava produtos como azeite de babaçu, licor de murici e de cupuaçu. A produção é escoada por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (de incentivo à agricultura familiar), do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e também em feiras livres.
Do Rio Grande do Sul, entre outros itens, vem o arroz Terra Livre, orgânico, parboilizado e integral. O produto vem da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), criada há 20 anos, que reúne 15 assentamentos em 12 municípios, em um total de 522 famílias. “Temos semente, assistência técnica, calcário, adubo. Nossa moeda de troca passou a ser o produto”, conta o produtor Nelson Krupinski, um dos coordenadores da Cootap. “A cooperativa passou a ter um papel fundamental na comercialização”. Do lado da barraca de Nelson, eram vendidos doces feitos pelos alunos do Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária (Iterra), de Veranópolis, também no Rio Grande do Sul.
Formação técnica é uma das demandas do setor, lembra Gilmar Mauro, que também cobra mais investimento por parte do Estado. “É preciso tecnologia, investir em cursos. É preciso que a Embrapa se envolva nisso, que as universidades criem cursos voltados para a agroecologia, é preciso abrir mercado e criar condições de mercado.” A comercialização ainda é um desafio, observa o dirigente do MST. “Tem de haver formas de industrializar os produtos para trazer aos grandes centros. Isso ainda é uma dificuldade.”
A produtora Cleide Oliveira Ribeiro, de Corumbá de Goiás, se anima com a receptividade ao itens vendidos pelo Assentamento Dom Tomás Balduíno, “o segundo maior do estado”, como lembra, com quase 3 mil famílias, e que começou a comercializar produtos recentemente. Vinda de um grupo de 40 pessoas, que também incluiu gente do Distrito Federal, ela comercializava doces, geleias e castanhas de baru, entre outros produtos. “Como teve muito interesse, vamos continuar produzindo, em forma de cooperativa.” Os vizinhos da Cleide na feira vêm de outros assentamentos da região, como Canudos, Plínio de Arruda Sampaio e dom Hélder.
Quem passou na feira pela manhã ouviu cantoria de uma trupe que circulava pelos galpões. Às 16h de hoje, está previsto show da dupla Cacique e Pajé. A programação de amanhã inclui, das 9h às 11h, um seminário sobre agrotóxicos e transgênicos e seus impactos no ambiente e na saúde humana. Às 14h, haverá um ato público em defesa dos alimentos saudáveis.
No sábado, penúltimo dia da feira, haverá mais seminários e o show Beatles para Crianças, às 10h. Pereira da Viola se apresenta às 16h e Chico César, às 17h. O encerramento será na tarde de domingo (25), com show de Zé Geraldo (16h30) e um ato político. A programação completa pode ser vista no site.
Fonte: Rede Brasil Atual