Escrito por : Remígio Chilaule
Por ocasião do dia da Paz em Moçambique realizou-se no passado 2 de Outubro o Fórum de Reflexão sobre Paz e Desenvolvimento. Entre os convidados a falar encontrava-se o Reverendo Dinis Matsolo. Depois do evento, Pressenza teve a oportunidade de entrevistá-lo acerca dos aspectos centrais da sua comunicação. No tradicional jeito de contador de histórias, o carismático Reverendo foi tocando pontos como a Regra de Ouro, a tolerância religiosa e a célebre frase de Mahatma Gandhi “seja a mudança que queres ver no mundo”. Eis as suas palavras:
“A Lei de Ouro é uma lei que é comum em todas religiões e refere-se ao modo de vida das pessoas. A lei usa palavras diferentes em cada religião mas diz fundamentalmente a mesma coisa: amar ao próximo como a si próprio; ou então, não fazer nada que não gostaria que outros fizessem a si. Se nós seguíssemos a Lei de Ouro receberíamos a qualquer uma pessoa como a nós mesmos. Por exemplo: quem condena ou deseja morte a si próprio por ter cometido um erro? Se eu cometo um erro, eu espero que todas pessoas entendam que eu falhei. A Lei conduz assim à grande amizade. O verdadeiro amigo é aquele que quando você falha, não pensa que você fez algo permanente. Erros podem acontecer, é evidente, mas você pode corrigi-los. Portanto a Lei de Ouro recomenda a olhar para o outro, não como outro; não como alguém diferente de mim, mas como uma pessoa próxima. Porque se eu digo ‘o outro’, no ponto de vista dele, ele também me considera como ‘o outro’. Ou seja, ‘eu sou outro’. Portanto, devo desejar tudo de bom a outra pessoa, como a mim mesmo.”
“Eu aprendi e cheguei à conclusão de que existe uma única religião no mundo. O que nós vemos são manifestações da mesma religião. Estamos a falar do mesmo Deus, que pode ser chamado de vários nomes de acordo com cada religião. Mas é esse mesmo Deus que é pai de todos nós, o que significa que temos a mesma orientação. É como se fossemos subir uma montanha; não importa se subimos do lado nascente ou do poente, do lado norte ou do sul; o que importa é chegar ao cume da montanha. Portanto estamos a caminhar para o mesmo Deus. Se temos consciência disso não há motivo para confrontação entre as religiões. As religiões se complementam. Há algo que a minha religião enfatiza que outra religião não enfatiza, mas há muito que eu posso aprender das outras religiões também. De facto as religiões todas estão para o bem das comunidades. Uma verdadeira religião é aquela que faz tudo para a paz e o bem-estar das comunidades. Então se esse é o propósito, único, então estamos na mesma linha, e portanto precisamos colaborar e completarmo-nos mutuamente. Quando faço as minhas interpretações bíblicas, faço o cruzamento do alcorão, da bíblia… não interessa que eu seja muçulmano ou não; posso beber alguma coisa dessa parte. Aliás a própria bíblia é um documento que incorpora diferentes religiões. O velho testamento é o livro dos judeus. O novo testamento é o livro dos cristãos. Mas ambos estão na mesma bíblia, portanto essa interacção vem para enriquecer aquilo que cada um de nós é.”
“Eu admiro Mahatma Gandhi. Admiro muito porque também aprendi muito dele, quando eu estava fazer a minha teologia na África do Sul. Porque Mahatma Gandhi viveu na África do Sul e fez uma revolução lá. Foi uma resistência não-violenta. Eu bebi isto com muita veemência e aprendi muito das suas citações. São citações profundas. A que coloquei hoje na minha intervenção é a que diz que se nós queremos que as coisas mudem temos que começar por nós. Eu tenho que mudar. Muitas vezes nós mudamos de emprego, mas não mudamos nós mesmos. Então continuamos a carregar o problema para o novo emprego. As coisas devem começar com a nossa própria transformação. Portanto é esse o desafio que Mahatma Gandhi nos coloca de uma forma muito interessante. Se nós queremos ver mudança em Moçambique, a mudança tem que começar connosco mesmos”.
Numa feliz coincidência, o Fórum teve lugar no Dia Internacional da Não-violência, 2 de Outubro, consagrado pela ONU e recordando o aniversário do nascimento de Gandhi. Humanistas de todo mundo aproveitam este dia para gerar consciência e dar um sinal de que a não-violência é uma realidade presente, e é uma esperança para o futuro.
Em Maputo, os humanistas juntaram-se para reflectir sobre a perigosa situação actual do país, marcada pela crescente tensão político-militar. Num ambiente comemorativo, realizaram-se cerimónias e recordou-se o histórico discurso com que Silo fundou o Movimento Humanista em 1969, no qual menciona as diversas formas de violência cada vez mais visíveis em todos pontos do planeta, e aponta saídas para transformar essa situação pessoal e social, através da metodologia da não-violência.
As anteriores actividades levadas a cabo em Moçambique no Dia da Não-violência foram mencionadas no Fórum por Terezinha da Silva, simpatizante humanista e activista pelos direitos das mulheres através da ONG WLSA.