Desde que China passou a possuir um fórum semelhante para negociar com a região, o contato com os países latino-americanos se tornou mais importante para a UE. “Diplomacia cultural” é uma das armas para uma aproximação.
Mais de 40 chefes de Estado e governo da Europa, da América Latina e do Caribe estão em Bruxelas para a segunda cúpula entre União Europeia e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), que vai desta quarta à quinta-feira (10 e 11/06).
O encontro de alto nível é um sinal político de que os europeus estão interessados na região, opina a analista Susanne Gratius, do instituto Fride, de Madri. Segundo ela, desde que a China passou a possuir um fórum semelhante para negociar com a América Latina, o contato com os países da Celac se tornou mais importante para a UE.
A especialista diz que, diante de uma iniciativa bilionária de investimentos de Pequim, os europeus deveriam pensar bem o que têm para oferecer à América Latina, apostando principalmente no soft power. Segundo Gratius, a UE deveria fortalecer o diálogo político e cultural e “também deveria disseminar suas normas e valores”.
No entanto, destaca a especialista do Fride, a UE não tem mais um mecanismo concreto para aumentar a sua aceitação na América Latina, que não é mais parceiro dos europeus em nível da ajuda ao desenvolvimento. Isso diminuiu a “influência política” da Europa na região, constata Gratius.
O caminho da “diplomacia cultural” já é seguido pelos europeus: além do encontro de cúpula em nível de chefes de Estado e governo, há também em Bruxelas, por exemplo, uma “cúpula acadêmica” – um encontro de reitores de universidades e alguns ministros de Educação de ambos os lados do Atlântico para um intercâmbio científico.
No contexto da “diplomacia cultural”, a UE oferece uma ampliação do programa de intercâmbio para jovens acadêmicos (Erasmus), proporcionando novos destinos para estudantes aventureiros.
Um encontro entre os sindicatos dos dois lados e um evento com representantes da sociedade civil sob o patronato da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, já aconteceram. A diplomata italiana mencionou até um “pensamento sul-atlântico”, que os europeus deveriam aprender paralelamente ao pensamento transatlântico em relação aos EUA.
Melhorar as relações comerciais
Os europeus querem agora recuperar o tempo perdido para impulsionar, em particular, novamente as relações comerciais. Com 26 dos 33 países-membros do Celac, o bloco europeu já fechou acordos de privilégios comerciais. Os progressos, no entanto, podem ser difíceis: há 20 anos se arrastam as negociações com o Mercosul.
Em entrevista à Deutsche Welle, a presidente Dilma Rousseff afirmou que fará “o possível e o impossível” para que as negociações cheguem a um acordo. Apesar disso, em Bruxelas, é contido o otimismo de que se consiga um avanço em breve.
“Seria preciso organizar mais encontros temáticos, por exemplo, sobre migração, drogas ou conversas sobre problemas concretos em vez de promover grandes cúpulas”, opina a especialista em América Latina Susanne Gratius, elucidando que os interesses dos países-membros da Celac seriam extremamente divergentes. “O que Honduras tem a ver com o Brasil e os países latino-americanos com o Caribe?”
Por esse motivo, explica Gratius, também não é possível exportar a ideia europeia de integração para a América Latina: o Celac nunca será mais do que um guarda-chuva institucional, uma confederação geográfica solta com problemas e preocupações diversas. Segundo a especialista, na cúpula em Bruxelas trata-se, sobretudo, da “visibilidade política” da América Latina.
Um dos pequenos resultados do encontro é a elevação da Fundação UE-LAC (União Europeia-América Latina e Caribe), destinada a apoiar as relações das sociedades civis, para o status de uma organização internacional. A sua presidente, a ex-chefe da diplomacia europeia Benita Ferrero-Waldner, explicou que os europeus deveriam, futuramente, observar as relações com a América Latina como prioridade.
“Ao todo, somamos 61 países, já pensou no quanto poderíamos avançar juntos se nos uníssemos?”, indagou a política austríaca. Porém, ela sabe por experiência própria o quão difícil isso pode ser. E, em situações de crise, falta algumas vezes a oportunidade para contatos: “A situação na Venezuela é muito preocupante”, exemplifica Ferrero-Wagner. “A situação ali pode escalar para uma guerra civil.”
Relações com Cuba
A cúpula em Bruxelas também traz novidades: uma delas já teve início na coletiva de imprensa entre o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, e o chanceler cubano, Bruno Rodríguez.
Um acordo de cooperação entre a União Europeia (UE) e Cuba envolve oportunidades para ambos os lados, afirmou o ministro cubano.
“Estamos muito satisfeitos com as negociações que podem levar a um acordo”, disse Rodríguez, que convidou Steinmeier a visitar Havana.
O ministro aceitou o convite com as palavras mais gentis. Dadas as numerosas crises globais, os indícios de um entendimento com Cuba é um sinal de esperança. A EU, afirmou Steinmeier, quer e tem de marcar presença na região.
No entanto, a data para assinatura de um acordo, que também deverá conter um capítulo sobre um diálogo de direitos humanos, ainda está em aberto. Após uma onda de opressão em Cuba, a cooperação foi suspensa em 2003.
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