A Coligação da Esquerda Radical – Syriza, em sua sigla grega – venceu as eleições parlamentares gregas e deve formar o novo governo do país. Qual o significado disso? Que a Grécia não irá mais seguir as políticas de austeridade impostas a partir de 2008 pela União Europeia. Uma verdadeira reviravolta está em curso.
O fenômeno anti-ajuste econômico da União Europeia começa em Atenas, mas não se resume a esse país. E sua bandeira também inclui a reação aos partidos de extrema-direita, com matizes fascistas. É uma onda de esquerda democrática, anti-capitalismo global, que apenas começa a despontar na Europa.
A Grécia tem uma das maiores taxas de desemprego do continente e suas perspectivas de recuperação econômica são pífias, ao passo que os compromissos com o ajuste estrutural imposto pela Troika (Bruxelas – FMI – Berlim) se mantêm a fórceps, em nome da estabilidade do bloco e do euro.
A moratória da dívida externa – algo improvável de ocorrer num país da União Europeia – torna-se realidade a partir de agora, uma realidade muito mais concreta como moeda de negociação do Syriza perante Bruxelas e os devedores privados do que uma política irrevogável a ser adotada.
A onda não para aí. Ela empurra outras agremiações políticas – como o Podemos, na Espanha – a derrubar estruturas políticas arraigadas desde, pelo menos, a redemocratização desses países nos anos de 1970. A mensagem é clara: direitos e garantias sociais não serão perdidas em nome de uma estabilidade imposta desde outras capitais e burocracias que detêm o cetro decisório.
Enquanto investidores internacionais aplaudem discursos de austeridade no Forum Social Mundial, em Davos, Suíça, o povo grego agiu como aquele acendedor de lanternas de rua, na chegada do crepúsculo.