Os jornalistas flagraram turnos que atingem 18 horas, inexistência de folgas, dormitórios insalubres, exploração de mão de obra infantil.
Do Esquerda.net publicado pelo portal Carta Maior
Esta quinta-feira, o programa da BBC Panorama foi dedicado às condições de trabalho flagrantes nas fábricas da Pegatron, nos subúrbios de Xangai, nas quais os trabalhadores chineses montam os famosos iPhones e os iPads da Apple.
Dois repórteres da cadeia de televisão britânica, que se infiltraram nestas unidades fabris, descrevem a forma como os trabalhadores são obrigados a cumprir turnos de 12 horas, que muitas vezes se estendem até às 16 horas, e como são sujeitos a aguentar 18 dias de trabalho consecutivos, sem direito a qualquer folga.
Durante a reportagem foram captadas imagens nas quais os trabalhadores foram filmados a adormecer de exaustão durante a jornada laboral.
Um dos jornalistas, que chegou a fazer-se passar por um trabalhador da fábrica, descreve como, após um turno de 16 horas, não conseguia mexer-se, nem sequer para se alimentar.
“Sempre que chegava ao dormitório, mal me conseguia mexer. Mesmo que tivesse fome nem conseguia levantar-me para comer. Só queria estar deitado e descansar. Mas não conseguia dormir à noite devido ao stress”, narra.
Durante o programa Panorama foi ainda denunciado o fato de serem impostas aos trabalhadores horas extraordinárias sem que as mesmas impliquem qualquer remuneração adicional. As condições insalubres dos dormitórios, onde, num espaço exíguo, se concentram mais de uma dúzia de trabalhadores também foram retratadas pela BBC.
A par das condições degradantes na fábrica de Xangai, os repórteres confirmam ainda ter sido confrontados com a exploração de mão de obra infantil em minas ilegais na ilha indonésia de Bangka, que estará a fornecer estanho às cadeias de produção da Apple.
Crianças, entre os 12 e 14 anos, trabalham em condições extremamente perigosas, em locais onde se confrontam com a possibilidade eminente de deslizamento de terras, procurando estanho com as próprias mãos.
A Apple afirmou-se “profundamente ofendida” com a investigação da BBC, garantindo “que nenhuma outra empresa se está a esforçar tanto como a Apple para assegurar condições de segurança e justiça no trabalho”.
Em comunicado, a empresa frisa que é comum que os trabalhadores façam sestas durante o horário de trabalho, mas que iria indagar se, de facto, os mesmos estão a adormecer de exaustão. A Apple assegurou ainda está a monitorizar as horas de trabalho semanais dos seus trabalhadores e que na fábrica de Xangai, a média é de 55 horas por semana.
Quanto às condições em Bangka, o vice-presidente de produção justifica: “A Apple tem duas opções: podemos garantir que todos os nossos fornecedores compram estanho fora da Indonésia, que seria provavelmente o caminho mais fácil e proteger-nos-ia das críticas. Mas seria o caminho da preguiça e da cobardia, porque nada faria para melhorar a situação dos trabalhadores indonésios ou o ambiente, já que a Apple usa uma pequena fração do estanho que é retirado das minas. Escolhemos o segundo caminho, que é permanecermos comprometidos e tentar conduzir uma solução coletiva”.
Em 2010, as condições de trabalho nas fábricas chinesas tornaram-se públicas quando 14 trabalhadores da Foxconn, um dos maiores fornecedores da Apple, puseram termo à vida devido à pressão a que eram sujeitos para cumprirem os objetivos da empresa.
Nessa altura a Apple introduziu novas regras no que respeita às condições de trabalho e dividiu a produção entre a Foxcon e a Pegatron.
Veja vídeo neste link http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/12/141219_apple_fabrica_china_pai