A UNESCO classificou no passado dia 27 de Novembro o cantar tradicional alentejano como património imaterial da humanidade.
O Alentejo é, “grosso modo”, a região a sul do Rio Tejo, entre a zona de Lisboa e o Algarve, compreendendo os distritos de Évora, Beja, Portalegre e parte de Setúbal, em Portugal. O cante alentejano é um cântico coletivo polifónico, desenvolvido durante o trabalho no campo, sem a participação de quaisquer instrumentos, para além da voz.
A candidatura do cante alentejano a património imaterial da humanidade foi promovida pela Câmara Municipal de Serpa e pela Região de Turismo do Alentejo e procura preservar uma das expressões culturais mais originais da região.
Atualmente o Alentejo é uma das regiões mais desertificadas e envelhecidas de Portugal, quer por força do êxodo rural, sobretudo para a Área Metropolitana de Lisboa, quer pelo declínio da agricultura, a que não será alheio o seu clima quente e seco. Porém, esta região tem uma longa história de resistência contra a exploração dos trabalhadores rurais, como bem dá conta a literatura neo-realista portuguesa de meados do século XX.
Assim, o cante alentejano é também uma expressão da resiliência do povo desta região e está fortemente ligado ao imaginário da revolução democrática de 1974, através da canção “Grândola Vila Morena”, de José Afonso, que se inspirou nesta forma de canto para a compor. Recorde-se que essa canção foi escolhida pelos militares como uma das senhas da chamada “revolução dos cravos”.
Aliás, no seu disco “Cantigas do Maio” (1971), José Afonso cantava numa das suas faixas: “Ó Alentejo esquecido, ainda um dia hás-de cantar”.
Esse canto é doravante património da humanidade…
Cante alentejano é património imaterial da humanidade
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