O Prêmio Nobel da Paz de 2014 foi dedicado às crianças. Os contemplados diretos foram a paquistanesa Malala Youzafzai e o indiano Kailash Satyarthi. Mundialmente conhecida, Malala defende o direito das meninas à educação; Kailash combate há décadas o trabalho infantil na Índia.
O Nobel da Paz é o mais político dos Prêmios e pretende sempre mandar uma ou mais mensagens globais com sua escolha. Neste ano, tratou de vincular a paz à proteção das crianças, um tema chave para as políticas de desenvolvimento e para a política global da igualdade de gênero e dos direitos humanos.
Contemplar no mesmo prêmio dois países rivais e vizinhos, India e Paquistão, sinaliza pressionar sem discriminação duas culturas e religiões, a hindu e a muçulmana, a abandonar práticas que impedem o desenvolvimento integral das crianças.
No caso de Malala, há outros componentes políticos em jogo. Quando tinha 15 anos, a menina foi vítima de um atentado desferido pelo Talibã, quando ia para a escola. Esse grupo radical islâmico entende que as meninas não devem estudar, não devem sair de casa. Malala sobreviveu, foi salva, e apesar das seqüelas físicas, radicou-se no Reino Unido e tornou-se uma ativista internacional do direito à educação das meninas.
Sua militância corajosa não está isenta de críticas. Em seu país, há os que a acusem de traidora dos valores islâmicos; analistas mais isentos também criticam o fato de que o caso de Malala foi apropriado por ONGs de Direitos Humanos que atuam pela “ocidentalização” do Oriente Médio e do Mundo Islâmico.
Vale destacar que essa edição do Prêmio é importante por outra mensagem: a paz não se materializa e se sustenta apenas pela ausência de guerra, pelo fim dos conflitos e pelos acordos de paz. A construção da paz está intimamente vinculada ao acesso à educação igualitária.