Em meio a um noticiário internacional pesado, contabilizando muitas mortes em Gaza e na Ucrânia, um fato chama a atenção pela comicidade. O vice-primeiro ministro da Turquia, Bulent Aric, recomendou às mulheres de seu país que não riam alto em público. Esse conselho vem de um senhor que ocupa o segundo cargo mais importante do Poder Executivo turco.
A reação não poderia ser mais oportuna: uma avalanche de comentários de mulheres turcas nas redes sociais respondeu de maneira debochada às declarações do político, sabidamente conservador, mas que extrapolou os limites do ridículo ao externar suas convicções sobre o comportamento feminino.
Nada mais relaxante do que uma risada sonora, que inclusive contamina os demais que a ouvem. Sim, o riso contagia, e tem poder de fazer desmoronar os mais empertigados regimes políticos e tabus sociais. O riso é, por assim dizer, um elemento subversivo, um vírus que se alastra e derruba tanto prevenidos quanto desavisados.
Curiosamente, esse mesmo político que adverte as mulheres para não rir, costuma chorar em público, sempre que seu chefe, o primeiro-ministro Erdogan, discursa no Parlamento. São lágrimas derramadas pela causa política. Mas parece que o choro do sr. Aric não produz o mesmo impacto da risada franca e livre das mulheres turcas.
Muito já se disse sobre a força do riso, da gargalhada, para o bem-estar, para a qualidade de vida: a cura pelo riso. Ser feliz não é sorrir, dar boas risadas? Por que as mulheres não podem rir alto e os homens podem? Esse político turco, sem querer, causou o efeito contrário ao desejado, mostrando que as mulheres não apenas podem rir em público, mas que seu riso tem poder político.
Se há males que vem para bem, então a funesta e risível recomendação do vice-premier turco criou uma nova forma de protesto, saudável, leve e irrestrita: o riso como forma de empoderamento feminino e democratização dos costumes.