Havana (Prensa Latina) Todos somos africanos, refletiu o famoso ator estadunidense Danny Glover durante uma visita ao museu da Rota do Escravo, localizado no Castillo de San Severino na cidade cubana ocidental de Matanzas, 100 quilômetros a leste de Havana.
Glover repetiu o conceito histórico expressado pela lutadora social mexicana Dores Huerta, co-fundadora do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Campo Unido.
Tanto o artista norte-americano como a sindicalista do país latino-americano, faziam referência a que o ancestral direto do ser humano, o homo sapiens, nasceu e se desenvolveu no continente depois espoliado, saqueado e relegado.
O comentário do protagonista da saga cinematográfica Máquina Mortífera surgiu a partir de sua reação depois de um percurso por passadiços, calabouços e instrumentos de tortura que os colonos espanhóis aplicavam aos africanos trazidos à força para trabalhar nas plantações agrícolas.
O museu A Rota do Escravo, Monumento Nacional de Cuba, é uma instituição cultural única por suas características na América Latina e Caribe que oferece um panorama da vida desses seres humanos vendidos como mão de obra barata.
Depois da visita por salas reveladoras do tráfico escravo e dos séculos de escravatura padecidos pela nação caribenha, o artista narrou que experimentou sensações similares durante uma visita a Gana, onde conheceu o lugar de onde eram embarcados, de maneira desumana, os africanos para Cuba.
“Ainda que eu venha dos Estados Unidos, a memória histórica da escravatura vista desta experiência me admite um sentido de pertencimento a este lugar. Portanto o que mais me emociona é estar aqui e saber das rebeliões e da resistência”, agregou.
A entidade de Matanzas, testemunha dessa prática execrável, também testemunhou as prisões em diversas épocas de patriotas cubanos como Gabriel de la Concepción Valdés (Plácido), Miguel de Teurbe Tolón e o líder estudantil José Antonio Echeverría.
Ao longo de sua existência, o museu recebeu milhares de pessoas, das quais a imensa maioria provém do exterior que, como Danny Glover, vão ao encontro das raízes de Cuba e também das suas próprias.
Segundo promotores da instalação cultural, os visitantes concentram maior atenção na sala dedicada a tradições ancestrais como o culto aos Orishas do Panteón Yoruba, conhecido como Regra de Ocha ou Santería.
Outro lugar muito visitado é o destinado a mostras transitórias, destaca o ciclo Miradas à Cultura Africana, um tributo desse continente ao mundo, ao mesmo tempo em que homenageia os afrodescendentes.
Ali são exibidas obras doadas por artistas plásticos cubanos e peças da coleção do Museu de Arte de Matanzas mediante as quais se mostra a riqueza espiritual aportada por seres humanos transportados à força para as Américas.
Máscaras, estatuetas, relicários, colheres e outros utensílios revelam intimidades de 19 etnias, incluídas Yoruba, Bargimi e Makonde, autênticos panteões que superam a geografia original para ressurgirem em outras terras e novos imaginários transculturais, destacou.
O museu também apresentou a série fotográfica A Ilha de Gorée, de Victoria Montoro Zamorano, artista de origem cubana estabelecida nos Estados Unidos, com a qual recria o tráfico de escravos a esta ilha pertencente ao Senegal, que fez as vezes de prisão para escravos e atual museu por seu incalculável valor patrimonial e místico.
Essas instantâneas transmitiram e transmitem as consequências da compra de seres humanos, estigma da conquista e colonização sofrida também pelos povos das Américas.
Duas das maiores riquezas artísticas entre as peças exibidas derivam da mostra Wifredo Lam, um ato de descolonização, com peças originais do universal artista cubano apresentadas por Alexis Leyva Machado (Kcho). Calcula-se que o tráfico negreiro criado pelos colonizadores europeus, tirou à força de suas regiões 20 milhões de africanos em 250 anos.
A maioria dos trazidos contra sua vontade do espoliado e esquecido continente proveio da zona ocidental da África, em especial da Nigéria, Senegal, Angola e as atuais nações limítrofes com o golfo da Guiné.
O aporte dos africanos às Américas é notável com expressões que incluem todas as variantes da vida, pois não há manifestação presente a esta parte do mundo que careça de sua influência.
Assim, Cuba, por exemplo, forjou sua nacionalidade com uma mistura de europeus e africanos que deu por resultado uma natureza de indivíduo dotado de ritmo, harmonia e talento capaz de criar valores universais tão notáveis como a Escola de Ballet ou a Música, entre outros.