A data remete ao nascimento de nossos avós e bisavós, e dos pais deles. Fotos antigas, amareladas, guardadas em caixas esquecidas no fundo dos armários, são daquela época. Um período de grande fé na humanidade, na ciência e no progresso. Paris era uma festa, com suas feiras internacionais, incensando o voo inaugural do 14 Bis, pilotado por Santos Dumont. Era o tempo da “Belle Époque”, expressão que fala por si mesma.
Em 28 de junho de 1914, um fato determinou a trajetória histórica. O assassinato do Arqueduque da Áustria, Francisco Ferdinando, herdeiro do trono do Império Austro-húngaro, selou os rumos da política internacional, desencadeando a Primeira Guerra Mundial. As razões do conflito são complexas e se relacionam às disputas de poder na Europa e suas conexões no vasto mundo colonial que se espraiava pela Ásia e África.
Recordar esse evento não serve apenas para mostrar a insanidade da “guerra total”, expressão criada pelo estrategista Clausewitz, teórico da guerra, no século 19; é um recurso essencial para entender grande parte da geografia e da história política da atualidade, em boa medida forjada no desfecho daquele conflito.
Os meios de comunicação, como o rádio e o jornal, tiveram papel fundamental naquela quadra. Foi a primeira vez que o mundo acompanhou “em tempo real” um conflito internacional de magnitude. No Brasil, jornais como O Estado de São Paulo e A Tribuna de Santos, nascidos no século anterior, informavam sobre a guerra, que afetava a economia e o comércio nacionais, e que acabou levando o nosso país a cerrar fileiras contra os alemães, após o afundamento de navios brasileiros.
Grandes personagens da literatura e do cinema emergiram dali, enriquecendo o imaginário simbólico da humanidade. Dentre eles, Lawrence da Arábia (eternizado pelo ator britânico Peter O’Toole), o espião britânico que articulou a insurreição árabe contra o Império Otomano e que se solidarizou com os oprimidos; a bailarina holandesa Mata Hari (eternizada pela atriz Greta Garbo), espiã dupla, condenada à morte por traição.
Hoje, ao estudar a História, a Geografia e as Relações Internacionais, nos deparamos com o nascimento de um novo mundo pós-Primeira Guerra, muito parecido com o que existe. Por isso não devemos estranhar que depois de 1919 – com o Tratado de Versalhes, que pôs fim à guerra – as fotos antigas falem mais de nós do que imaginamos.