Por Dr Meir Margalit, desde Jerusalem
Se tivesse que resumir numa só palavra toda esta amarga sensação de angústia que me invade ante tanta tragédia, elegeria a palavra: ¡Basta!
Basta é uma palavra potente. Quando se a pronuncia com convicção, ela pode mudar o rumo da história. Não imediatamente, e sempre se faz esperar, mas quando milhares a exclamam incessantemente, ela pode derrubar muralhas. Quando se diz com firmeza, olhando de frente aos olhos daqueles políticos que com tanta facilidade ordenam bombardear civis e gritamos frente as suas caras ¡Basta!, não há força que a possa conter. Já foi cobrado um preço demasiado caro. Demasiado sangue já correu, demasiada dor já foi semeada, e agora ¡Basta! Já é hora de acabar com toda esta loucura, começar a negociar, a dialogar, porque não podemos mais, porque não há consolo que valha e nem há lugar para lágrimas e menos para a dor. E ¡Basta! porque isto não faz sentido, pela força não conseguiremos nada – pelo contrário – cada dia nos afundamos mais num amargo pântano lacerante.
Basta é a resposta ética à ideologia militarista. Ao dizer ‘Basta’ creamos um espaço para a esperança, um espaço que não está regido pelo degradante discurso militarista, nacionalista, fanático, irracional, que domina hoje a sociedade israelense e através dela projetamos um espaço alternativo, humanista, ético, moral, sensato, racional, baseado no respeito dos direitos humanos, justiça e igualdade. ¡Basta!, porque queremos um melhor futuro para nossos filhos, queremos ser os artífices de um destino melhor, no que seja possível concretar anseios e ilusões. ¡Basta!, porque não queremos mais vítimas em nenhum bando. ¡Basta!, porque não queremos continuar matando nem oprimindo. Não queremos arrebatar os filhos de nenhuma mãe nem disseminar órfãos em nenhum povo. Não queremos morrer, nem matar por ídolos de espécie nenhuma, nem muito menos por “territórios” que já faz tempo deixaram de ser “sagrados” . Queremos viver porque nada há mais sagrado do que a vida e queremos respeitar a vida alheia, bem como queremos que outros respeitem a nossa.
Basta é o grito liberador de todo aquele que se nega a não ser mais do que um peão num jogo apavorante e sem sentido. Por isso, ¡Basta!, é a palavra que nos transforma em seres humanos, a palavra que nos distingue da besta, que marca a diferença entre o ser humano e o criminoso. Não somos soldados, nem combatentes, somos por sobretudo humanos, e nesse aspecto Moshe-Yosef- Abraham de Tel Aviv e Musa-Yusuf-Ibrahim de Gaza não se diferenciam em nada, cada um é uma cópia do outro, cada qual é reflexo do próximo.
Gritar ¡Basta! é uma forma de resistência, é uma forma de socavar os fundamentos do sistema que possibilita esta barbaridade. Basta é uma forma de rebelião, e quem não se rebela ante tanta matança, converte-se em cúmplice da barbárie.
Meir Margalit, 24/7/2014
Centro para a Promoção de Iniciativas de Paz e Comitê Israelense contra as demolições de casas