Às 6h, a Tropa de Choque da Polícia Militar já invadia o terreno e iniciava a reintegração de posse; famílias aguardam instruções para retirarem pertences
por Redação da RBA
São Paulo – O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), descumpriu hoje (28) um acordo firmado com 4 mil famílias da ocupação Portal do Povo, no Morumbi, zona sul da capital paulista, que garantia a permanência no terreno até quarta-feira (30). Às 6h, um batalhão da Tropa de Choque da Polícia Militar invadiu o terreno e deu início a reintegração de posse.
Haverá uma reunião da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) às 15h, para discutir o destino das famílias. Às 20h, elas realizarão assembleia em uma quadra vizinha ao terreno.
No momento da reintegração de posse, a maior parte dos ocupantes estava trabalhando, mas o movimento conseguiu organizar a retirada dos pertences, que foram depositados em uma associação de moradores próxima do terreno.
“Estava acordado que, na quarta, iriamos deixar o terreno pacificamente, mas a polícia chegou aqui hoje de manhã dizendo apenas que foi ordem do governador. A maioria das pessoas já tinha saído para trabalhar”, lamenta a coordenadora da ocupação, Simone de Souza Silva.
No último dia 17, o MTST assinou um acordo com o comando da Polícia Militar, em que pedia 15 dias de prazo para o despejo das famílias da ocupação Portal do Povo.
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A Secretaria da Segurança Pública (SSP) contradisse o movimento e informou, por meio de nota, que não se tratava de uma definição de data, mas que a reintegração poderia ocorrer em até 15 dias. “Não houve descumprimento de nenhum acordo. Há uma determinação judicial para que a área localizada na rua Doutor Luiz Migliano fosse desocupada em meados de julho. No dia 17, a pedido dos moradores e da própria Polícia Militar, a Justiça alongou o prazo ATÉ o dia 31.”
A SSP ainda atacou o coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, por querer politizar o processo e criar uma situação conflituosa.
“A Secretaria de Segurança Pública lamenta que o Sr. Guilherme Boulos, que se intitula líder do MTST, utilize o déficit habitacional existente na cidade de São Paulo para fazer proselitismo político-eleitoral. O que incomoda o Sr. Boulos é que a ação da PM hoje impediu que ele montasse o cenário para uma reintegração conflituosa, e não pacífica como ocorreu. A operação desta segunda-feira era de conhecimento da Justiça.”
No entanto, os despejos de áreas ocupadas pelo MTST são conhecidas por acordos com a Polícia Militar para evitar confrontos. É uma atitude tomada com frequência pelo movimento e que foi ressaltada pela coordenadora Simone. “Não é interessante para a gente que haja enfrentamento em despejos. Já é uma situação difícil. Não temos motivo para piorá-la. Os batalhões têm nossos contatos, podiam ter nos avisado”, reclama.
Ela disse, ainda, que ontem foi realizada uma assembleia em que o movimento havia garantido aos moradores a permanência até quarta-feira. E que os sem teto vão “cobrar” Alckmin por isso. “Nós nunca quebramos um acordo com o governo estadual. Ainda não decidimos como, mas cobrado ele vai ser”, concluiu.
A situação lembra as demissões após a greve dos metroviários, quando 42 trabalhadores foram dispensados por justa causa, pois teriam realizado ações violentas e depredações no Metrô paulista. Alckmin vetou o recontratação dos demitidos, mesmo após o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, ter aceitado a reintegração. O motivo seria uma pesquisa interna do PSDB, que mostrava que os eleitores de Alckmin aprovavam a ação “rigorosa” contra os grevistas.
Na quarta-feira (23), o MTST realizou um ato na região central para pedir que a prefeitura de São Paulo desaproprie o terreno onde está a ocupação, pertencente a Construtora Even.
Uma comissão foi recebida por representantes da Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab) e ficou acordado que se iniciaria hoje um cadastramento em programas de habitação das famílias que ocupam o terreno. O governo municipal pediu a indicação de uma nova área para as famílias. O MTST já possui quatro mapeadas.
A Ocupação Portal do Povo teve início em 20 de junho. No dia 17, os moradores realizaram um protesto em frente à sede da Construtora Even, na zona oeste. Pelo menos 80 militantes passaram a noite acampados no estacionamento da empresa. A Even disse, na época, que iria esperar que a desocupação, que havia sido ordenada pela Justiça, fosse cumprida e destacou que se trata de uma área privada.