No dia 15 de Junho, acontecia o jogo de Bósnia e Argentina. Uma manifestação contra a Copa aconteceu ao mesmo tempo no centro do Rio de Janeiro em direção ao estádio, onde foram impedidos de chegar.

Os confrontos tiveram o mesmo cenário de outros que ocorreram nos protestos contra a copa. Até certo momento, houve um equilíbrio de forças entre os lados. Ora recuavam os manifestantes, ora recuava a polícia. Apesar de todo o aparato policial, as tropas ainda recuam à precária (até certa medida) força popular. E esse mesmo aparato policial não justifica a força desmedida com que é aplicada.
São balas de borracha contra pedras. Lançadores de granadas contra coquetéis molotov. Escudos de acrílico contra tapumes. Armas não-letais, que condenam à vida, e não à morte.

No dia 15 de junho, porém, policiais mostraram do que mais são capazes numa postura irresponsável, apesar dos precedentes não surpreenderem.

Tiros foram reportados na Av. 28 de Setembro. Um vídeo foi capturado pelo Jornal A Nova Democracia. No vídeo, mostra um policial se dirigindo à moto e atirando à esmo, em direção aos manifestantes.

Nenhuma hesitação se mostra por parte do policial quanto à presença da imprensa ao lado dele.

 

Na segunda parte do vídeo, uma pessoa sai de um Astra prata, placa KNW 2735, que estava preso no trânsito por conta da manifestação. Ele tem em punhos uma pistola, e ameaça imprensa e manifestantes. O desequilíbrio dele é claro, com uma arma letal em mãos. Ele se identifica por voz como policial, mas nega mostrar identificação. Após um certo momento, ele embarca no Astra e foge, atirando para o chão, numa afronta e amostra de poder.

Essa cena já foi vista anteriormente nos protestos de junho e de forma recorrente. E mais anteriormente que isso.

Em Julho de 2001, em Gênova ocorreram diversos protestos antiglobalização, em relação à reunião da cúpula do G8. Carlo Giuliani foi atingido por um disparo letal contra ele durante os protestos do dia 20. Disparado por um policial sem farda que se encontrava dentro de um carro dos carabinieris. Logo após, o carro mudou o curso que fazia antes dos disparos, e atropelou o corpo, ainda vivo, que resistia aos ferimentos. Carlo não resistiu a esse golpe final.

O caso de Carlo Giuliani recebeu repercussão internacional, e virou ícone para ativistas antiglobalização pelo assassinato sem motivo, perpetrado de forma ilegal, imoral e irresponsável. Documentários foram feitos que contam a história, além de diversos vídeos da internet que contam passo a passo cada uma das imagens, cada uma das fotos.

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Foto: Transmissão Ao Vivo do Coletivo Carranca

Enquanto se discute a falta de justificativa da repressão policial à expressão popular e a revolta, é muito claro a diferença de preparo e de aparato entre estes e os manifestantes. E a violência se perpetua, impune, e faz-se necessário o questionamento: para que, afinal, são preparados os policiais? Para uma resposta eficiente aos protestos? Se sim, então porque tanta violência, se são eles que estão com a vantagem em basicamente todos os sentidos, em que não precisariam recorrer à violência? Ou a violência é o único diálogo que conseguem enxergar e se recorrer? A violência é o meio de resposta?

Se parece que esse ápice de Carlo Giuliani é distante do cenário geral dos protestos de 2013 e 2014 para os leitores, enquanto uns falam para não esperar acontecer para fazer alguma coisa, fizemos questão de levantar que já aconteceu. Mas longe das lentes das imprensas que cobrem os protestos nos centros das cidades.

 

Na Cidade de Deus, no mesmo dia, o menino Lucas Canuto foi baleado.

No dia 17 de março, Cláudia Ferreira da Silva foi baleada, jogada num camburão da viatura da Polícia Militar e arrastada por quase 300 metros.

Douglas Rodrigues foi atingido no peito de dentro de uma viatura da Polícia Militar, que foi ao local onde acontecia uma festa para averiguar denuncia, e alvejou o garoto, sem fazer perguntas. A resposta dele, ainda em convulsão, foi perguntar “Por que o senhor atirou em mim?”.

Para não deixar a impunidade passar, os Advogados Ativistas e Anistia Internacional Brasil começam campanha para receber denuncias. A polícia segue sendo o maior atentado à segurança pública.

Mas o jornalismo cidadão resiste. Para não deixar impune, a seguinte denuncia roda as mídias sociais, com foto do autor dos disparos do Astra prata.

Cada vez mostra-se mais a necessidade de campanhas não-violentas. A guerrilha de comunicação é sempre mais poderosa (e inteligente) do que a força violenta e avassaladora do Estado. Essa comunicação está na mão de todos.

Vídeo na íntegra: http://youtu.be/rV0xW5uw4og

Nota: matéria editada em 25/06 acrescentando links e parágrafos no final