Cerca de 200 meninas foram sequestradas na Nigeria pelo grupo denominado Boko Haram. Organização terrorista, segundo o governo de Lagos, o grupo chocou a opinião pública internacional ao declarar ter vendido garotas para casamentos forçados.
Uma onda de solidariedade foi desencadeada entre países e nas redes sociais. Michele Obama, descendente de nigerianas, substituiu o Presidente Obama em seu discurso semanal – ação única na Casa Branca – para criticar o episódio e criou um post – logo viral – com foto sua no Facebook, e a frase: “Tragam de volta as nossas meninas”.
Diante da repercussão global e da assumida incapacidade do governo nigeriano de combater as ações do grupo, uma cúpula de chefes de Estado foi realizada em Paris, com a presença dos presidentes da Nigeria, Camarões, Níger, Chad e Benin. França, EUA e Reino Unido oferecem os mais variados recursos militares e de inteligência para enfrentar os facínoras, que seriam ligados à Al Qaeda, atuando em vasta área africana.
O presidente de Gana, que recentemente esteve no Brasil lançando um livro com o sugestivo título “Meu primeiro golpe de Estado”, em artigo publicado num grande jornal brasileiro, afirmou que não se trata de um atentado contra meninas, apenas. Que a ação do grupo é mais ampla, contra meninos, também. Que é necessário atentar para o problema da miséria e do descaso com a vida das crianças, que assola a África.
Sábias as palavras do presidente ganês. O radicalismo, islâmico ou ligado a qualquer religião, viceja como mato solto em terreno baldio, onde a extrema pobreza reina; e onde a brutalidade de governos autoritários impede a voz e a vida de seus opositores. Fazer desses grupos a causa dos problemas é uma atitude fácil e conveniente nos países desenvolvidos, cujos governos agem como paladinos da justiça internacional. Contribuir com a redução da pobreza, e o genuíno desenvolvimento de países atolados no subdesenvolvimento, é tarefa muito mais difícil, para não dizer incômoda.
Todos torcem para que as meninas nigerianas sejam salvas; oxalá sejam elas resgatadas numa ação cinematográfica, talvez comandada pelo serviço secreto britânico. Mas o resgate que falta, das causas que alimentam a caldeira fervente da violência, é uma ação maior, mais densa, que clama por outra solidariedade.