São Paulo – Os dois estudantes de Filosofia da Universidade de São Paulo presos sem provas durante a reintegração de posse da reitoria na madrugada de ontem (12) acabam de ser liberados do Centro de Detenção Provisória II, em Osasco, para onde haviam sido transferidos no começo da tarde de hoje (13). Eles responderão em liberdade às acusações de furto, formação de quadrilha e dano ao patrimônio público.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) informou que continuará a mobilização para impedir que eles sejam criminalizados. Haverá assembleia geral às 18h.
Segundo o boletim de ocorrência, registrado ontem na 93ª Delegacia de Polícia da capital paulista, os estudantes Inauê Taiguara e João Vitor Gonzaga Campos foram presos em flagrante e teriam furtado troféus, dois notebooks e um smartphone. A Secretaria de Segurança Pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB) não se manifestou sobre o episódio.
O DCE afirmou, em nota, que os dois detidos não participavam da ocupação da reitoria, mas voltavam de uma festa na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Na mesma ocasião, dois ciclistas, pai e filho, também foram presos e liberados depois de duas horas, por não terem ligação com a universidade. A Secretaria de Segurança Pública não confirmou estas duas últimas prisões.
“Eles saíram da festa, ouviram um rojão e foram para frente da reitoria, que já estava vazia, verificar o que acontecia. Chegando lá, como a polícia não encontrou mais ninguém, começaram a persegui-los e os prenderam”, disse Gabriel Lindenbach, membro do DCE e estudante de Geografia.
O Diretório acusa a polícia de ter agredido os estudantes fisicamente. O chefe do Departamento de Filosofia da USP, professor Milton Meira do Nascimento, chegou a ir ontem à delegacia prestar apoio aos alunos presos. Outros estudantes permaneceram em vigília no local até a liberação dos detidos.
No começo da tarde, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) enviou uma carta ao secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira, pedindo a liberação dos detidos. Segundo a carta, as prisões foram efetuadas de modo arbitrário.
“Além da atuação da Polícia Militar nessas prisões, que pelos relatos foi arbitrária, há, também, uma postura irredutível da Polícia Civil no sentido de enquadrar os dois jovens em crimes de formação de quadrilha, dano ao patrimônio público e furto qualificado”, diz um trecho da carta.
Ao longo da tarde, diversos departamentos da USP lançaram notas condenando a prisão dos estudantes. “Como autoridades e gestores desta USP não devemos aceitar, sob quaisquer argumentos, ações violentas que agridem os direitos individuais de quem quer que seja”, disse a Diretoria da FFLCH e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU).
“Repudiamos com veemência a ação truculenta da polícia militar. Essa instituição não cumpre o objetivo de garantir segurança à população. Pelo contrário, serve aos detentores do poder econômico e justamente reprime movimentos que buscam uma sociedade igualitária”, denunciou, em nota, o Centro Acadêmico de Filosofia (CAF).
A ocupação da reitoria ocorreu em 1º de outubro para reivindicar o direito de participar do processo de seleção do novo reitor, com voto direto e paritário, sem a atual lista tríplice, pela qual o governador Geraldo Alckmin (PSDB) pode contrariar a escolha da universidade e indicar um reitor entre três selecionados.
Na madrugada de ontem (12), a Tropa de Choque da Polícia Militar cumpriu a reintegração de posse da reitoria, seguindo ordem judicial expedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo na segunda-feira da semana passada (4). Não houve resistência dos estudantes.
por Sarah Fernandes, da RBA