Brasília – A afirmação é do jornalista britânico Glenn Greenwald, correspondente do jornal The Guardian, ouvido pela CPI da Espionagem, do Senado, nesta quarta (9/10). Greenwald reafirmou que os governos dos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra têm coletado informações de países em desenvolvimento movidos por interesses econômicos. “Sem dúvida não estão preocupados com segurança nacional ou terrorismo, como sempre alegam, mas em obter vantagens comerciais para suas empresas”.
Para Glenn Greenwald, os governos desses três países têm feito o que sempre acusam a China de fazer. “A China espiona seus parceiros comerciais, mas esses governos têm usado o discurso da segurança para justificar seu aparato de espionagem”. O jornalista disse que analisou apenas cerca de 2% do material obtido com o ex-colaborador da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA), Edward Snowden, exilado na Rússia desde 1º de agosto.
Em vários momentos, Greenwald afirmou que se o Brasil, assim como qualquer outro país, quiser obter mais informações sobre os arquivos que estão em poder de Snowden, terá que lhe oferecer proteção. Segundo ele, ninguém entende tanto sobre o aparato de espionagem montado pela NSA quanto seu ex-colaborador.
Questionado pelo senador Ricardo Ferraço, relator da CPI, sobre a possibilidade de repassar os arquivos que estão sem seu poder ao governo brasileiro, o jornalista britânico afirmou que não pode fazer isso sob pena de ser processado por traição pelo governo norte-americano, e não poder mais voltar ao seu país. Além disso, lembrou, os documentos contêm informações sobre outros países.
Greenwald também afirmou que a NSA tem invadido sistemas de transmissão via cabo, mas que não sabe quais seriam esses sistemas. Questionado sobre a possibilidade de colaboração de empresas brasileiras com a espionagem, o jornalista afirmou que o sistema usado pela NSA é o mesmo usado pela AT&T, que mantém contratos com empresas de telecomunicações de vários países, inclusive brasileiras. O que não dá para afirmar, ponderou, é se essas empresas estão colaborando, mas há a possibilidade de que o estejam fazendo mesmo sem saber.
Ameaças
Greenwald disse que tem feito jornalismo com muito risco e que por isso tem sido atacado em seu país. “Estou sendo ameaçado por pessoas do meu governo. Mas continuo dizendo que continuarei fazendo jornalismo até que o último documento seja publicado. Não estou segurando documentos relevantes. Não estou escondendo informações”.
Ainda segundo o convidado da CPI, o jornal The Guardian sofreu invasão de agentes do governo britânico, que quebraram computadores e ameaçaram processar jornalistas e quem mais estiver envolvido com as reportagens que denunciam o esquema global de espionagem. Além do Brasil, outros países da América Latina também estariam sendo espionados, como a Venezuela.
Além de Greenwald, seu companheiro, o brasileiro Davi Miranda, com quem vive há cerca de oito anos, também foi ouvido pela CPI. Ele contou sobre o episódio em que ficou detido por quase nove horas no aeroporto de Londres logo depois de pôr os pés em solo britânico. “Isso aconteceu simplesmente por que sou brasileiro. Eles me ameaçaram o tempo todo de prisão caso não colaborasse. Me perguntaram como está a política no meu país e se eu tinha envolvimento com os protestos que vêm acontecendo no país desde junho”. Para Greenwald, ficou claro que a detenção de Miranda é parte da estratégia do governo britânico de ameaçá-lo em represália às informações que ele tem divulgado.
Edward Snowden
Logo após os depoimentos de Greenwald e Miranda, a CPI aprovou requerimentos para envio de correspondência ao advogado de Snowden e ao governo russo solicitando de ambos autorização para uma videoconferência com o ex-colaborador da NSA. À Carta Maior, a senadora Vanessa Grazziotin, presidenta da CPI, disse que o diálogo com Edward Snowden é importante para entender o mecanismo de espionagem liderado pelos Estados Unidos, mas não é essencial para o trabalho da CPI.
De acordo com a senadora, é mais importante para a comissão compreender até que ponto o sistema de comunicações do Brasil está vulnerável e, a partir disso, propor ao governo medidas que possam proteger tanto a comunicação dos cidadãos quanto a de Estado. Ainda segundo a senadora, representantes de empresas como Google Brasil, Facebook Brasil, Microsoft, Telefônica, Oi, GVT e TIM deverão ser convocados para depor novamente.