São Paulo – Cento e dois casos de agressão contra jornalistas foram registrados durante a cobertura de manifestações em todo o país, desde junho. Vinte e cinco partiram de ativistas e 77 de policiais militares e agentes da Força Nacional. Os dados foram divulgados hoje (28) pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
O repórter fotográfico Sérgio Silva, que trabalha como freelancer, faz parte dessa estatística. “Meu caso ficou bastante conhecido por causa da brutalidade e pelo abuso da violência. Não tenho muito o que falar sobre o 13 de junho. Resumidamente: sofri agressão da Polícia Militar [PM]. Foi um tiro de bala de borracha e infelizmente fui atingido no olho esquerdo. A bala que me atingiu foi certeira. Tenho diagnosticado 100% da perda da visão do olho esquerdo. E isso está sendo muito difícil já que tenho o olho como meu instrumento de trabalho”, disse, em entrevista à imprensa. Sérgio Silva entrou com uma ação judicial pedindo reparação ao Estado pela violência que sofreu.
Ao apresentar os números do levantamento, o diretor executivo da Abraji, Guilherme Alpendre, disse que a entidade tem observado o aumento da violência contra jornalistas nos últimos três anos. “Ela [violência] aumenta discretamente no número de homicídios”, declarou. Segundo ele, de cinco a oito jornalistas morrem assassinados a cada ano.
Mas os casos de agressões, na avaliação de Alpendre, têm sido frequentes, aumentando desde as eleições do ano passado e se intensificando com as manifestações. “Em 2013, contando desde os protestos de 13 junho até as 12h30 de hoje, chegamos a 102 agressões a jornalistas em protestos”, disse Alpendre, durante entrevista na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP), na capital paulista.
Do total de 102 agressões, 39 ocorreram no estado de São Paulo, sendo que 38 delas na capital: Seis foram cometidas por manifestantes e 33 por policiais. No Rio de Janeiro, foram 24 casos, sendo 23 na capital, e dez delas partiram de ativistas. Os últimos episódios de violência contra jornalistas ocorreram no dia 21 de outubro, quando nove profissionais foram agredidos em manifestações ocorridas em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Para o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, a violência contra os profissionais de imprensa, principalmente nas manifestações de junho, “superaram todas as estatísticas de violência anteriormente conhecidas”. Até então, de acordo com o sindicato, o episódio mais violento ocorreu em maio de 2011, durante a Marcha da Maconha, quando seis jornalistas foram agredidos. “Esse é portanto um caso político porque o Estado brasileiro é o responsável por essa agressão [contra os jornalistas]. É a Polícia Militar o elemento catalisador dessa violência contra o jornalista”, disse José Augusto Camargo, presidente da entidade.
Os jornalistas mais atingidos são os fotógrafos e cinegrafistas. Para Esdras Martins, secretário da Associação dos Repórteres Fotográficos de São Paulo (Arfoc-SP), isso ocorre principalmente por causa da ação desses profissionais durante a cobertura, pois ficam sempre próximos dos manifestantes e dos policiais durante os conflitos. “Eles [cinegrafistas e fotógrafos] precisam estar perto. É muito próximo o contato do cinegrafista e do fotógrafo com a manifestação”, disse.
Adriano Lima, fotógrafo da Agência Brazil Photo Press, foi atingido por golpes de cassetete no último dia 21, quando tentava fotografar o momento em que um manifestante era detido por policiais. Para ele, uma das razões que explicariam as agressões contra jornalistas é a falta de melhor identificação dos profissionais e a falta de um preparo melhor para cobrir os protestos. “Nosso posicionamento pode estar errado por falta de orientação da Polícia Militar”, disse.
O sindicato e a Polícia Militar pretendem, em breve, se reunir em São Paulo para discutir uma forma a fim de evitar as agressões contra os profissionais da imprensa.
Em 2012, um estudo feito pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) apontou que o Brasil ocupa o 11º lugar no ranking de países que não punem os crimes cometidos contra os profissionais de imprensa.
Por Elaine Patricia Cruz, Repórter da Agência Brasil