O grupo militante islâmico Al-Shabab, da Somália, assumiu a responsabilidade pelo ataque que causou dezenas de mortos neste sábado num shopping de Nairóbi, no Quénia.
O Al-Shabab, que tem ligações com a rede Al Qaeda, tem estado a promover ataques contra o Quénia desde 2011, quando tropas quenianas entraram no sul da Somália para combater os militantes do grupo.
O Al-Shabab chegou a controlar boa parte da Somália, mas foi expulso das principais cidades que dominava no sul e no centro do país. Ainda assim, o grupo permanece como uma ameaça em potencial.
Saiba mais sobre o grupo com as perguntas e respostas abaixo, preparadas pela BBC:
Quem é o Al-Shabab?
Al-Shabab significa ‘A Juventude’ em árabe. O grupo apareceu como uma ala radical da hoje finada União dos Tribunais Islámicos da Somália em 2006, enquanto o grupo combatia as forças etíopes que entraram na Somália para apoiar o fraco governo interino.
Há vários relatos sobre a presença de jihadistas estrangeiros na Somália para ajudar o Al-Shabab.
O grupo impôs uma versão estrita da sharia (lei islâmica) nas áreas sob seu controle, incluindo o apedrejamento até a morte das mulheres acusadas de adultério e o amputamento das mãos de acusados de roubo.
Quanto da Somália o Al-Shabab controla?
Apesar de ter perdido o controle das cidades e povoados, o grupo ainda tem influência sobre muitas áreas rurais da Somália.
O Al-Shabab foi expulso da capital do país, Mogadíscio, em agosto de 2011, e perdeu o controle do vital porto de Kismayo em setembro do ano passado.
Kismayo era uma peça importante para os militantes, permitindo que suprimentos chegassem a áreas sob seu controle e provendo recursos para as suas operações.
A União Africana (UA), que apoia as forças do governo, comemorou a retomada do controle de ambas as cidades como grandes vitórias, mas o Al-Shabab ainda vem promovendo ataques suicidas relativamente frequentes em Mogadíscio e em outros lugares.
Analistas acreditam que o Al-Shabab está a concentrar-se cada vez mais em tácticas de guerrilha para conter o poder de fogo das forças da UA.
Mas o grupo está sob pressão de várias frentes, incluindo a incursão das forças do Quénia na Somália em 2011. O Quénia acusou os militantes do Al-Shabab de sequestrar turistas. As forças quenianas, agora sob o comando da UA, esteve à frente dos esforços para expulsar o grupo no sul do país, até Kismayo.
Enquanto isso, as forças da Etiópia entraram pelo oeste e tomaram o controle das cidades centrais de Beledweyne e Baidoa.
Quem é o líder do Al-Shabab?
Ahmed Abdi Godane é o chefe do grupo. Conhecido como Mukhtar Abu Zubair, ele é originário da região separatista da Somalilândia, ao norte do país.
Há relatos – fortemente negados pelo Al-Shabab – de que a sua liderança está a ser cada vez mais contestada pelos originários do sul do país, que formam o grosso dos combatentes do grupo, estimados entre 7.000 e 9.000.
Godane raramente é visto em público. O seu antecessor, Moalim Aden Hashi Ayro, foi morto num ataque aéreo americano em 2008.
Quais são as ligações internacionais do Al-Shabab?
O Al-Shabab aliou-se à Al Qaeda em fevereiro de 2012. Num comunicado conjunto em vídeo, o líder do Al-Shabab, Ahmed Abdi Godane, disse que “prometia obediência” ao líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri.
Os dois grupos trabalham juntos há tempos, e estrangeiros estariam a lutar ao lado dos militantes somalis.
No ano passado, líderes do Al-Shabab acompanharam um homem identificado como o cidadão americano Abu Abdulla Almuhajr, que se dizia da Al Qaeda, enquanto ele distribuía ajuda a vítimas da fome no território controlado pelos militantes islâmicos.
As autoridades americanas acreditam que com a Al Qaeda em retirada do Afeganistão e do Paquistão após a morte de Osama bin Laden, os seus combatentes estão cada vez mais a procura refúgio na Somália.
O Al-Shabab já havia promovido ataques fora da Somália?
O grupo foi responsável por um ataque suicida duplo na capital de Uganda, Kampala, que matou 76 pessoas que assistiam pela televisão à final do Campeonato do Mundo de futebol, em 2010 na África do Sul.
O ataque aconteceu porque Uganda – juntamente com o Burundi – forneceu grande parte das tropas da UA na Somália antes de o Quénia entrar no conflito.
Analistas dizem que os militantes entram com frequência no Quénia e deixam o país sem serem interceptados. Os seus militantes até mesmo visitariam a capital, Nairóbi, para tratamentos médicos.
O ataque duplo em 2002 contra alvos israelitas próximo ao balneário de Mombasa, no Quénia, foi supostamente planeado na Somália por uma célula da Al Qaeda.
Os Estados Unidos também acreditam que alguns dos integrantes da Al Qaeda que planearam os ataques contra as embaixadas americanas em Nairobi e em Dar es Salaam, em 1998, depois fugiram para a Somália.
Quem são os apoiantes do Al-Shabab?
A Eritreia é o único aliado regional, mas nega prover armas para o Al-Shabab.
A Eritreia apoia o Al-Shabab para conter a influência da Etiópia, o seu maior inimigo.
Com o apoio dos Estados Unidos, a Etiópia enviou tropas para a Somália em 2006 para combater os islamistas. As forças etíopes retiraram-se em 2009 após sofrer fortes baixas.
Após intervir novamente em 2011, a Etiópia diz que entregará os territórios que conquistou à UA.
O que faz o governo da Somália?
O presidente é o activista e ex-acadêmico Hassan Sheikh Mohamud. Ele foi eleito em 2012 por um recém-escolhido Parlamento somali, seguindo um processo de paz promovido pela ONU.
Ele derrotou o ex-presidente Sheikh Sharif Sheikh Ahmed – um ex-combatente rebelde islâmico, cujos três anos no poder foram criticados pelo suposto descontrole sobre a corrupção.
O Al-Shabab denunciou o processo de paz como um plano estrangeiro para controlar a Somália.
A Somália é considerada um “Estado falido”. O país não tem um governo nacional efectivo há duas décadas. Nesse período, a maior parte do país tem sido uma zona de guerra constante.
A situação tornou fácil para o Al-Shabab, quando o grupo apareceu, ganhar apoio entre os somalis. O grupo prometia segurança à população, algo altamente desejado. Mas a sua credibilidade foi atingida quando rejeitou a ajuda alimentar ocidental para combater a fome causada pela seca em 2011.
O Al-Shabab defende a versão wahabista do Islão, inspirada pela Arábia Saudita, enquanto a maioria dos somalis segue a linha do sufismo. O Al-Shabab destruiu um grande número de santuários sufistas, provocando uma queda ainda maior na sua popularidade.
Entretanto, com a capital, Mogadíscio, e outras grandes cidades agora sob controle do governo, há um novo sentimento de esperança no país, e muitos somalis retornaram do exílio, trazendo consigo dinheiro e novas habilidades.
Com serviços antes inexistentes como colecta de lixo e iluminação urbana a reaparecer, a Somália pode finalmente estar reemergindo das cinzas das últimas duas décadas.