Pela Constituição Federal, o Brasil é um Estado Laico. Porém a vinda do Papa tem passado por cima da lei, com gastos públicos relacionados a um evento da fé católica, como mostra o protesto realizado hoje em São Paulo. Já no Rio, um outro protesto denuncia a pressão contra os homossexuais, que são duramente criticados pelo Vaticano. Veja as duas matérias abaixo da Agência Brasil.
Com chegada do papa, manifestantes promovem beijaço gay no Rio

Rio de Janeiro – No primeiro dia da visita do papa Francisco ao Brasil, manifestantes promoveram um beijaço gay em frente à Igreja Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, na zona sul. O grupo tomou conta das escadarias da igreja, que momentos antes estavam ocupadas por peregrinos da Jornada Mundial da Juventude. Com cartazes como do “Papa eu abro mão, quero mais dinheiro para saúde e educação”, os manifestantes protestam contra gastos públicos com a vinda do papa ao país.

O protesto reúne diversos grupos, como de estudantes, integrantes do movimento LGBT (lésbica, gay, bissexual, travesti e transexual) e pessoas com bandeiras de partidos políticos.

Policiais do batalhão de choque e da Força Nacional de Segurança acompanham os protestos a distância. Neste momento, o grupo caminha em direção ao Palácio Guanabara, onde o papa é recepcionado pela presidenta Dilma Rousseff.

 

Ateus e agnósticos protestam em São Paulo contra gastos públicos na recepção ao papa

São Paulo – Membros da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) protestaram hoje (23) contra os gastos públicos para recepção do papa Francisco e realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Brasil. Com um secador de cabelos, eles promoveram uma “desbatismo” em frente à Catedral da Sé, centro da capital paulista. Após secar simbolicamente a água do sacramento do batismo, a pessoa recebia um certificado de participação no ato.

“Podemos receber o papa, mas isso não significa que temos de gastar R$ 850 mil em uma recepção para ele, que os aviões da FAB [Força Aérea Brasileira] tenham de ir até o Vaticano para buscar o jipe dele”, disse o presidente da Atea, Daniel Sottomaior. Ele criticou também o fato de a prefeitura do Rio de Janeiro ter decretado quatro dias de feriado, dois deles parciais, por causa da visita do pontífice.

Para Sottomaior, os gastos com a vinda do pontífice são um exemplo de como a laicidade (doutrina ou sistema que preconiza a exclusão das igrejas do exercício do poder político e administrativo) do Estado é desrespeitada no Brasil. “As autoridades sempre fizeram isso nesses 120 anos de República, pondo símbolos religiosos nas repartições públicas, pondo [a frase] ‘Deus seja Louvado’ no dinheiro, dando dinheiro para as religiões. Todos nós somos católicos e evangélicos à força, com a imunidade tributária que as igrejas recebem”, afirmou.

O professor Marcelo Carvalho ficou sabendo do protesto ao ouvir as críticas de uma apresentadora de TV ao ato. Ele destacou que também não é contra a recepção ao papa Francisco, mas acha que a festa não deveria envolver dinheiro público. “É mais o gasto público com a vinda dele, não necessariamente a vinda dele”, ressaltou Carvalho.