Para debater os movimentos grevistas do último ano, entrevistamos o técnico do Dieese Rodrigo Linhares. Ele aponta o bom momento da economia como um estímulo para a realização de paralisações.
Aumentou em 58% o número de greves em 2012 na relação com o ano anterior. Foram 873 mobilizações grevistas no ano passado, sendo 461na esfera privada e 409 na pública. Esta é a maior quantidade de greves desde 1997. Os destaques são as paralisações do setor industrial, que registraram 330; e os servidores municipais, que contabilizaram 227 greves.
Os dados são do “Balanço das greves em 2012”, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), lançado neste mês de maio.
Para debater as implicações e características dos movimentos grevistas do último ano, a Radioagência NP entrevistou o técnico do Dieese responsável pelo estudo, Rodrigo Linhares. Ele aponta o bom momento da economia como um estímulo para a realização de paralisações, e também ressalta o papel da greve como “um instrumento efetivo de conquistas para os trabalhadores”.
Radioagência NP: O que as greves de 2012 se diferenciam ou se igualam ao movimento de 2011?
Rodrigo Linhares: A diferença de 2012 em relação a 2011 é uma ampliação que a gente percebe. Categorias que tradicionalmente são muito grevistas, como de metalúrgicos, por exemplo, as greves saem de um centro que é de empresas onde já existe uma organização de trabalhadores consolidada e vão para pequenas empresas, onde até então não havia greves ou essas greves eram muito raras. As greves nessas pequenas empresas são motivadas, principalmente, por atraso de salários, irregularidades no depósito do FGTS, atraso no pagamento da gratificação de férias, enfim, irregularidades trabalhistas. Um outro ponto é uma tendência que já vinha de alguns anos e que em 2012 explodiu, que é a greve dos professores das redes municipais, principalmente na região nordeste. São greves defensivas, mas defensivas no sentido de consolidar um avanço, a Lei do Piso Salarial.
Radioagência NP: O estudo apontou algumas características das greves e em relação às do setor público ficou evidente as pautas defensivas. A que se deve isso?
RL: Essa “defensividade” das greves na esfera pública, agora em 2012 está ligada, principalmente, à reivindicação dos professores municipais pelo pagamento do piso nacional do magistério. Os servidores federais fizeram mobilizações bastante consideráveis, que tiveram característica defensiva pela manutenção das condições vigentes, eles queriam reposição salarial e negociações com o governo. Eles estavam querendo assegurar ganhos diante da postura do governo, que agora diante de um cenário econômico mais difícil está tentando apertar um pouco o cinto.
Radioagência NP: Quais algumas características das greves na esfera privada no último ano?
RL: Nos últimos anos, a não ser em 2009 por conta da crise internacional, as greves da esfera privada são em maior número em relação às greves da esfera pública. Aí tem diversos fatores. Principalmente na indústria, o que se destaca é a importância cada vez maior das greves por PLR (Participação nos Lucros e Resultados), que são greves curtas, que as vezes são mobilizações que duram algumas horas até a abertura de negociações. Teve também a campanha salarial de alguns ramos dos metalúrgicos de São Paulo, elas são um pouco mais pulverizadas por uma questão de estratégia. Além das grandes mobilizações por categoria, os trabalhadores também fecharam muitos acordos por empresa.
Radioagência NP: Você citou o ano de 2009, em que a crise econômica se manifestou no Brasil, como um diferencial na análise das greves. Qual a relação entre a ocorrência de greves com o contexto mais amplo da economia no país?
RL: Essas relações são sempre muito complicadas, sempre entram muitas variações. Mas acho que de modo geral, um crescimento econômico menor e desemprego não são favoráveis para deflagração de greves. O que a gente tem destacado nesse estudo de 2012, mas também nos últimos anos, é que o crescimento da economia e, principalmente, a estabilização do emprego e a situação do mercado de trabalho, isso tem favorecido o aumento das greves.
Radioagência NP: Quais as diferenças desse momento que se inicia do aumento do número de greves com outros períodos de movimentos grevistas em ascensão?
RL: Esse primeiro aumento do número de greves, que vem do começo da década de 80 até começo da década de 90, ele é principalmente defensivo. São os trabalhadores que fazem greve para defender o poder de compra dos salários. Por exemplo, uma época de inflação, às vezes beirando hiperinflação, as greves ali são para tentar garantir o valor dos salários. A ascensão dos últimos anos do movimento grevista, eu tenho a impressão que é uma característica diferente. É uma característica mais propositiva, mais ofensiva por reajuste salarial, por melhorias econômicas e nas condições de trabalho. A não ser em 2009, com o pipocar da crise internacional.
Radioagência NP: A quais resultados o Dieese chega nesse relatório das greves de 2012?
RL: O que se percebe é que a greve é um instrumento efetivo de conquistas. Grande parte das greves, de modo geral para mais de 70% das greves existe alguma conquista, mesmo que parcial. Greve é um instrumento efetivo de conquistas para os trabalhadores.
De São Paulo, da Radioagência NP, Vivian Fernandes