Bogotá – Ao tomar posse hoje (24) para o seu terceiro mandato consecutivo, Rafael Correa apresentou números positivos das mudanças econômicas e sociais que o Equador viveu nos últimos seis anos e defendeu um “controle social” da mídia. “O principal indicador de sucesso não é crescimento econômico, mas sim a redução da pobreza e sobretudo a da pobreza extrema”, declarou. Ele discursou logo depois de receber a faixa presidencial da presidenta da Assembleia , Gabriela Rivadeneira.
Correa destacou que o país está agora entre os três menos desiguais países latino-americanos, de acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) da região, com a Venezuela e o Uruguai. O país também melhorou seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), sendo um dos quatro países que mais subiram posições, conquistando desde 2007, dez posições no ranking mundial de 186 países.
“Sabemos que não há índices perfeitos e acredito que temos muito o que alcançar”, declarou. Lembrou também que, entre 2007 e 2012, 1 milhão de equatorianos deixaram a linha da pobreza extrema, diminuindo a parcela da população nessas condições de 16,2% para 11,2%.
Com relação à sua política econômica, Rafael Correa destacou que a média de crescimento foi 4,2%, com baixa taxa de desemprego, em torno de 4,1%. Correa explicou que o “sucesso” econômico do país se justifica pela modernização da máquina estatal, com um sistema transparente de licitações e ainda pelo direcionamento e uso das reservas financeiras do país em benefício dos próprios equatorianos.
“Inquestionavelmente já não mandam as oligarquias e o capital estrangeiro. Aqui quem manda é o povo equatoriano. A pátria já é de todos”, pontuou.
Correa defendeu o controle social dos mídia. Segundo ele, uma boa imprensa é fundamental para a democracia, mas uma “imprensa ruim, faz muito mal à democracia. Nesse cenário, qualificou a imprensa latino-americana de ruim e defendeu liberdade de expressão de todos os equatorianos e não somente de certos grupos de poder. “Acreditamos em meios comunitários, públicos e privados”, acrescentou.
Em tom crítico, questionou: “Se a imprensa difama um presidente é liberdade de expressão, mas se um presidente responde, aí não há liberdade de expressão?”
No campo da política externa sinalizou que continuará sendo voz atuante dentre os países da Aliança Bolivariana, formada pelo presidente Hugo Chávez, falecido em março.
“Como é possível que a sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos possa ser mantida em um país que não ratificou a Convenção de Direitos Humanos?”, questionou em seu discurso, voltando a defender a saída da sede do organismo da Organização dos Estados Americanos (OEA), de Washington, capital dos Estados Unidos.
“Não seremos tontos úteis de ninguém, os Estados Unidos precisam assinar a convenção. O fato de que a sede seja um país que não assinou a convenção é uma expressão do neocolonialismo… E o Equador não aceitará isso”, disse.
Ele também criticou o bloqueio econômico dos Estados Unidos a Cuba e questionou a OEA que, segundo ele, deveria se posicionar e lutar para o fim do embargo e também pelo fechamento da prisão norte-americana de Guantanamo em Cuba.
Ao terminar seu discurso, ele se lembrou de Hugo Chávez, declarando que até filhos dele sentem saudade do presidente. “Vamos em busca de nossa pátria querida”, disse, usando palavras que Chávez gostava de usar.
Correa chegou pontualmente à cerimônia de posse, na Assembleia Nacional do país, ao lado da esposa e dos filhos. Antes de começar a cerimônia, cumprimentou os chefes de Estado e de Governo que foram prestigiá-lo. Antes a presidenta da Casa Legislativa, Gabriela Rivadeneira discursou quase uma hora, atribuindo a Correa as mudanças que o país viveu nos últimos anos.
“Com Rafael Correa, demostramos que é possível inclusive mudar o destino… Agora todos os setores sociais e econômicos tem a possibilidade de mudança, agora a população indígena e pobre, aqueles que eram invisíveis, agora são os mimados desta revolução cidadã”, disse Rivadeneira.
Ele assumiu o mandato para o período 2013-2017, com a presença dez chefes de Estado. Participaram da posse de Correa, entre eles, os presidentes do Haiti, Michel Martelly; da Bolívia, Evo Morales; da Costa Rica, Laura Chinchilla; do Chile, Sebastián Piñera, da Venezuela, Nicolás Maduro; da Colômbia, Juan Manuel Santos e ainda do príncipe de Asturias, Felipe de Borbon, que representou a Espanha na cerimônia de posse.
A presidenta Dilma Rousseff não compareceu, porque está na Etiópia, para a celebração dos 50 anos da União Africana. O vice-presidente Michel Temer representou o Brasil na solenidade. Os presidentes do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e do Peru, Ollanta Humala, cancelaram a participação no evento de posse.
Correa saiu bastante fortalecido da campanha eleitoral realizada em fevereiro, além de vencer com quase 16% de vantagem sobre seus opositores, o Movimento Aliança Pátria Altiva e Soberana (Aliança País), elegeu 73% do Parlamento, que será formado por deputados 100 das 137 cadeiras da Assembleia Nacional.
A expectativa é que, com a ampla maioria, Correa impulsione outras reformas como as leis de comunicação, água, terra e um novo Código Penal. Apesar de sua fidelidade à Aliança Bolivariana e amizade com o presidente Hugo Chávez, Correa tem declarado que admira outros modelos econômicos, como o da Coreia do Sul, que tem um Estado forte, que controla a economia, mas com investimento prioritário em educação.
Este será o último mandato de Correa, de acordo com a Constituição. Correa tem reiterado que estes são seus “últimos quatro anos no país”. Além de levar adiante as reformas sociais que implementou, ele tem pela frente o desafio de construir um nome que possa sucedê-lo.
Após a cerimônia ele participará de um almoço que será oferecido aos chefes de Estado que assistiram à posse. No fim da tarde, ele participa de um ato popular que contará com a presença de 300 músicos no Parque Bicentenário de Quito. O último evento previsto do dia será uma recepção no Palácio do Governo, que Correa oferecerá às delegações que viajaram ao país para acompanhar seu juramento.
Por Leandra Felipe, Correspondente da Agência Brasil/EBC